Título: PSD é vice e controla Assembleia em reduto do DEM
Autor: Cunto,Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2011, Política, p. A6
Partido nem de esquerda, nem de direita nem de centro, o PSD traduz essa liberdade ideológica no pragmatismo de suas alianças. A guerra declarada pelo DEM contra a nova legenda não impede o PSD de participar do único governo estadual do adversário, que administra o Rio Grande do Norte com a ex-senadora Rosalba Ciarlini (DEM) e que tem como vice o presidente do PSD estadual, Robson Faria (ex-PMN).
A coabitação não acontece sem percalços. Cortejada para ingressar no PSD, Rosalba preferiu permanecer no partido por influência do senador José Agripino (RN), presidente nacional do DEM e um dos principais opositores da nova legenda, formada por dissidentes do DEM como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, cerca de 17 deputados federais, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e outros tantos prefeitos, vereadores e deputados estaduais.
Para tentar conter a perda de filiados, Agripino entrou com ações na Justiça de todos os Estados na tentativa de barrar a criação do PSD. No Rio Grande do Norte, o senador tentou impugnar o registro alegando que as assinaturas de apoio e as atas de fundação do partido eram falsificadas e que foram oferecidas cestas básicas em troca de adesões a legenda, o que irritou o vice-governador e seus aliados.
"Houve exagero da parte dele. Tinha que ser mais respeitoso com o nosso grupo, até porque demos uma ajuda substancial para elegê-lo senador", afirma Faria, que até a eleição de 2010 era adversário de Rosalba e Agripino, mas mudou de lado ao ser preterido pela ex-governadora Vilma Faria (PSB) na sucessão estadual - ela apoiou o vice, Iberê Ferreira (PSB), derrotado no primeiro turno.
Segundo Faria, a aliança não o impediu de apoiar a então candidata Dilma Rousseff (PT) com o consentimento dos outros integrantes da coligação. "Tanto é que quando a Rosalba estava comigo no palanque ela nem falava de eleição para presidente", diz. O DEM indicou o vice na chapa do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB).
O vice garante que a briga pública com o senador não mudou as relações com Rosalba. "Não vou dizer que a governadora ficou do meu lado, mas ela entendeu", diz Faria, que não tentou atrair nenhum político do DEM para não criar mais atrito. "Não foi nenhum ato de rebeldia. Pode até parecer um paradoxo, mas o PSD foi uma vitória para a Rosalba, que terá um grupo de prefeitos que era da oposição para trabalhar por ela em 2014", completa.
Com forte influência no interior, Faria acredita que conseguirá filiar cerca de 30 prefeitos com mandato e que o PSD tem potencial para eleger o governante de até 50 cidades. "Estimávamos ter uns 80, mas infelizmente a demora em obter o registro atrapalhou nossos planos", lamenta. Na Câmara dos Deputados, a única adesão foi de Fábio Faria (ex-PMN), filho do vice-governador.
Já na Assembleia Legislativa, o PSD terá o controle da Casa, com o presidente, o vice-presidente e o segundo e terceiro secretários e a maior bancada, com seis deputados estaduais - há conversas para filiar mais dois -, dois deles vindos da oposição, que ficou reduzida a oito parlamentares, contra 16 da base aliada. A influência pode servir tanto para ajudar Rosalba como dificultar a aprovação de projetos de interesse da governadora.
É o que tem ocorrido com empréstimo de US$ 540 milhões (R$ 990 milhões) do Banco Mundial (Bird), que será usado no projeto RN Sustentável. A oposição dificulta há três semanas o avanço da proposta e a bancada do PSD, interessada em mudar o destino dos recursos, nada faz para apressá-la.
A principal crítica é que 23% da verba irá para a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pesca, administrada pelo cunhado da governadora, Betinho Rosado, enquanto a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, controlada por Faria, foi excluída do empréstimo, apesar do programa ser voltado para projetos de desenvolvimento sustentável.
O vice-governador diz "não acreditar em retaliação" e nega que tenha instruído a bancada a atrapalhar o andamento do projeto. "Estranhei a divisão, mas de forma técnica. Era um crédito com perfil da minha secretaria, mas o dinheiro para saneamento básico será entregue ao Turismo e o de gestão hídrica irá para a Ação Social", reclama.
Responsável por negociar com a Assembleia, o secretário-chefe da Casa Civil do Estado, Paulo de Tarso, afirma que a divisão não tem influência política. "Ela segue a orientação do Bird para promover a sustentabilidade das cadeias produtivas", defende. O investimento em gestão hídrica, diz, irá para os conselhos comunitários construírem cisternas, espécie de reservatório para reter a água das chuvas.
Outro ponto que criou rusgas na relação entre governadora e vice foi a aliança entre Rosalba e o deputado federal Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB e favorito para ocupar a presidência da Câmara dos Deputados em 2013. O pemedebista apoiou Iberê Ferreira ao governo do Estado na eleição passada, seguindo a linha de alianças de Dilma, mas parte da sigla, ligada ao senador Garibaldi Alves, hoje ministro da Previdência Social, ficou do lado de Rosalba.
A nova aliança, avaliam políticos locais, é para tirar o espaço do vice. A governadora terá apoio integral da bancada do PMDB na Assembleia e contará com o partido em 2014. Em troca, Henrique Eduardo Alves ficará com a vaga da chapa para o Senado, posto desejado por Faria. Tanto Alves quanto Faria disseram ao Valor que ainda é muito cedo para discutir esse cenário.
Governadora e vice tentam articular um candidato único para a Prefeitura de Natal em 2012, mas já discutem cenários separados. "Pode ser que em cidades do interior não fiquemos no mesmo palanque, até porque eu era de outro grupo político. Agora, como a eleição na capital é mais emblemática, vamos procurar apoiar o mesmo candidato ou ter um acordo para o segundo turno", diz Faria, que sugere para a disputa o nome do filho ou da deputada estadual Gesane Marinho (PSD).
Já a governadora tem cogitado a candidatura dos deputados federais Rogério Marinho (PSDB) ou Felipe Maia (DEM), filho de Agripino, parlamentares que são mais próximos a seu grupo, enquanto o PMDB lançou o deputado estadual Hermano Morais. Com vários nomes em estudo, a única certeza é que a base governista não irá apoiar a atual prefeita, Micarla de Sousa (PV), que tem altos índices de rejeição e ganhou a inimizade dos aliados ao demitir as pessoas indicadas por eles para o governo.