Título: Mesmo com reajustes, rentabilidade cai em 20 setores
Autor: Raquel Landim e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 22/05/2006, Especial, p. A12
No primeiro trimestre deste ano, 27 entre 29 setores exportadores aumentaram os preços cobrados no exterior em relação a igual período de 2005. Este aumento - de 12,1% em média - não impediu que 20 entre os 27 setores encerrassem os primeiros três meses do ano com uma nova queda na rentabilidade exportadora, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O mesmo levantamento mostra que 16 segmentos também conseguiram elevar seus preços em relação aos preços que praticavam no final de 2005.
Ao mesmo tempo - e apesar da valorização do real -, 19 entre os 29 setores foram capazes de vender volumes maiores de janeiro a março de 2006 em comparação ao primeiro trimestre do ano passado. No entanto, o ritmo de aumento na quantidade exportada pela indústria nacional vem perdendo força. O número de veículos automotores exportado pelo Brasil cresceu 23% em 2005. No primeiro trimestre, o volume ficou 17% superior ao mesmo período do ano passado.
No setor de eletroeletrônicos, a desaceleração do ritmo das exportações é muito mais forte. As empresas desse setor incrementaram em 81% o volume das vendas externas em 2005, mas neste ano a alta chega a 28%. Esse ritmo menor reflete uma queda forte (19,9%) na rentabilidade, muito acima da média de 6,7% do total das exportações do país, na comparação entre os primeiros três meses de 2005 e 2006. Esse setor, ao contrário da grande maioria, não conseguiu reajustar os preços em dólar (eles caíram 5% no mesmo período), o que explica o menor retorno nas vendas externas.
Em outros setores industriais, a perda de rentabilidade das exportações foi menor: em veículos, ela caiu 3,3% neste primeiro trimestre, após acumular retração de 10,9% em 2005.
A Fiat chegou a operar com margens negativas no mercado externo em 2005. Por isso, decidiu reduzir os volumes e reposicionar os preços no exterior. Segundo informações da assessoria de imprensa, a empresa reajustou alguns modelos de automóveis, como o Palio Adventure, em até 30%, recuperando parcialmente a rentabilidade. A empresa estima uma queda de 20% a 30% no volume exportado em 2006, em relação aos 98 mil veículos embarcados no ano passado.
De acordo com a Fiat, o setor automotivo tem absorvido a alta dos custos dos insumos. O aço, uma matéria-prima importante, também deixou de pressionar tanto o setor (na exportação, a queda de preço foi de 14%) e a limitação do mercado consumidor freia os reajustes. Em 2005, foram vendidos pouco mais de 1,6 milhão de automóveis no país. A empresa acredita que o setor deve crescer 8% esse ano. O recorde de vendas de automóveis no país foi de 1,9 milhão em 1997.
A rentabilidade das exportações de máquinas e tratores caiu 8,9% no primeiro trimestre de 2006 em relação a igual período de 2005. Esse setor já havia perdido 15,1% em 2005 na comparação com 2004. A quantidade exportada de máquinas e tratores caiu 6,9% no primeiro trimestre, enquanto os preços subiram 11,4%.
As máquinas e equipamentos exportadas pela Mausa, companhia localizada no interior de São Paulo, ficaram entre 30% e 35% mais caras. Egon Scheiber, gerente comercial da empresa, diz que por conta desse aumento, tem perdido competitividade em relação a outros fabricantes. "Outras moedas também se valorizaram em relação ao dólar, mas não tanto quanto o real", reclama. Mesmo com um preço maior, ele diz que a rentabilidade da empresa segue em queda. Para o mercado interno, porém, o aumento de preços não ultrapassou 10%.
O setor têxtil não conseguiu reajustar seus preços no primeiro trimestre. Mesmo assim, aumentou os volumes exportados em 12,8%. A rentabilidade das exportações do setor caiu 16,2% no primeiro trimestre do ano. Em 2005, a queda foi de 19,6%.
Os calçadistas seguiram o caminho inverso. O setor aumentou em 7,6% os preços de exportação no primeiro trimestre. Os volumes embarcados cresceram apenas 2,8% no período. Os calçadistas amargaram queda de 12,4% na rentabilidade de janeiro a março de 2006 ante igual período de 2005. No ano passado, a perda de rentabilidade dos fabricantes de calçados chegou a 19,6%. (RS e RL)