Título: Embratel eleva o capital em R$ 1,9 bi
Autor: Heloisa Magalhães e Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Empresa, p. B1

Após investir R$ 5,5 bilhões para adquirir e reestruturar financeiramente empresas de telefonia móvel no Brasil, chegou a hora de o mexicano Carlos Slim Helú capitalizar a Embratel. A operadora anunciou ontem que pretende fazer um aumento de capital de até R$ 1,9 bilhão. Em comunicado, a empresa citou como objetivo melhorar sua estrutura financeira e adquirir ativos já pertencentes à sua controladora - a Telmex, de Slim - ou que venham a ser comprados por ela. A perspectiva de diluição da participação acionária dos investidores atuais e dúvidas sobre o destino dos recursos derrubaram as ações da operadora ontem. Os papéis preferenciais da Embratel Participações caíram 12,59% e terminaram o dia valendo R$ 5,55. Foi a maior queda entre as empresas que compõem o índice Ibovespa e também a maior desvalorização dessas ações em um ano e meio. Procuradas, Embratel e Telmex não deram entrevistas.

Serão ofertadas novas ações ordinárias e preferenciais da holding Embratel Participações. A proposta será discutida pelo conselho de administração no próximo dia 15. A expectativa de analistas ouvidos pelo Valor é de que parte dos recursos seja usada para a Embratel incorporar a Telmex do Brasil (antiga AT&T Latin America), que atua no setor corporativo. A transação não seria fácil: a Telmex tem 100% da antiga AT&T e apenas 37% da Embratel. Mas faria sentido porque a própria Embratel tentou comprar a AT&T, antes de ela própria ser adquirida pelo grupo mexicano. Analistas também mencionaram a possibilidade de a Embratel ficar com a participação que a Telmex deve adquirir na Net - operadora de TV paga controlada pela Globopar. No entanto, fonte que acompanha as negociações disse que as ações da Net serão compradas diretamente pela Telmex. Para o analista Roger Oey, do Banif, a compra de ativos como AT&T traria retorno lento para a Embratel. "Os riscos estão todos no curto prazo e o retorno, no médio e longo prazos", disse. O analista do UBS, Stephen Graham, ressaltou que o mercado pode não ter apetite pelas ações da Embratel. Ele lembrou que a Telmex desembolsou US$ 400 milhões pelo controle da operadora e gastará mais US$ 300 milhões para adquirir ações ordinárias dos minoritários (o chamado "tag along") - mais que o valor de mercado da empresa. A operadora enfrenta fase difícil, com queda nas receitas de longo prazo e dados e concorrência forte. Em relatório, a analista Jacqueline Lison, da Fator Corretora, afirmou que a capitalização é positiva, mas traz incertezas sobre gastos adicionais que a Embratel poderá ter no processo e sobre quais ativos serão consolidados pela empresa. A capitalização já era aguardada para sanear a dívida da operadora, que somava R$ 3,6 bilhões no fim de setembro. No entanto, o tamanho do aporte reforçou a expectativa de que a Embratel fará um grande volume de provisões no balanço do quarto trimestre. Duas fontes próximas à operadora disseram que a Embratel negocia com as empresas de telefonia local acordos para encerrar as disputas sobre interconexão. Na avaliação de Oey, deverão ser feitas provisões de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões. A estratégia da Telmex seria reconhecer todos os esqueletos da Embratel agora e começar 2005 com um balanço renovado.