Título: Sem Lula, ato por reforma é esvaziado
Autor: Martins,Daniela
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2011, Política, p. A10

Nunca estivemos tão perto de aprovar uma reforma política", disse o relator do projeto na comissão especial da Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), depois de um dia de tentativas de negociação e apoio. A tendência, no entanto, é que a votação, marcada para hoje, seja adiada.

Membros da comissão que debate o projeto apontam que, embora tenha procurado todos os partidos, Fontana não conseguiu formular um texto que atenda à maioria. "Ainda não há consenso e há a necessidade de mais conversas. Não se chegou a um acordo", declarou o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

A proposta do PT é aprovar o texto na comissão da forma como está, deixando para o plenário a votação dos itens de maior dissenso. Mas pontos como o financiamento público exclusivo e o voto em lista fechada sofrem resistência até mesmo do maior partido aliado, o PMDB, e devem emperrar a votação do texto hoje.

"Outras reformas virão, outros avanços virão, mas o pedido de apoio que faço é para que consigamos maioria em nossos partidos para votar o relatório", apelou Fontana aos aliados. "Vamos votar a favor do relatório amanhã para a manutenção da discussão", defendeu.

O apelo foi feito em ato pela reforma política promovido pelo PT ontem, na Câmara, que acabou enfraquecido pela ausência de um de seus principais convidados, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para compensar a falta, Fontana pediu que Lula entrasse em contato com as principais lideranças do Congresso para conseguir apoio à sua proposta, que foi elaborada sob inspiração da cúpula do PT.

Ao sair do evento, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), declarou que o relatório não atende às expectativas do partido. Entre os principais itens defendidos pela legenda, estão a manutenção do financiamento privado e o "distritão", fórmula que elege os mais votados de cada Estado, sem levar em conta a proporcionalidade entre os partidos. Além disso, o partido é contra a votação em lista fechada.

"Acho que é uma longa caminhada ainda, mas aprovar no Senado da forma que está será muito difícil", afirmou Raupp.

O pemedebista também disse que não é preciso pressa para aprovar o projeto, uma vez que as novas regras não valerão para as eleições de 2012. "Temos dois anos cheios para discutir a reforma", disse, insinuando que o projeto pode não ser votado neste ano. Para ele, uma comissão mista, formada por deputados e senadores, seria mais efetiva. "Se tivesse sido discutido numa única comissão mista entre Câmara e Senado, eu entendo que teria avançado um pouco mais", avaliou.

O deputado Ronaldo Caiado (GO), um dos representantes do DEM na comissão especial, também duvida que esse texto seja aprovado em plenário. Para ele, o relatório possui falhas graves e não satisfaz nenhum partido: "Não se construiu uma tendência majoritária neste ano para levarmos a matéria a ser votada em plenário."

Caiado apontou ainda que nas duas últimas legislaturas, quando o tema também foi apreciado, o texto que tramitava na comissão especial foi aprovado por ampla maioria, mas foi derrotado em plenário. "Se na comissão, onde as pessoas mais se debruçam sobre o tema, não tem consenso, no plenário seria ainda mais difícil [de aprovar o texto]", ponderou.