Título: PSDB repete antigos erros e enfraquece mais a oposição
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2011, Opinião, p. A14

O veto à participação do senador Aloysio Nunes Ferreira e do ex-governador José Serra na propaganda do PSDB paulista é revelador de que a divisão dos tucanos não acabou com a eleição de um novo comando partidário, no fim de maio, mais alinhado com a eventual candidatura do senador mineiro Aécio Neves a presidente da República, nas eleições de 2014.

A explicação oferecida pelo governador Geraldo Alckmin para o ato é simplória. Segundo o tucano, o diretório estadual optou por dar prioridade às lideranças regionais, daí o fato de o primeiro senador eleito pelo PSDB para o Senado, em mais de dez anos, ter ficado de fora da peça publicitária. Os membros do partido, no entanto, não hesitarão em discernir os sentidos das manobras e situar o episódio no contexto mais amplo da disputa interna do PSDB.

O que chama a atenção na disputa fratricida dos tucanos de São Paulo não é o que ela encerra de paroquialismo e de vindita pessoal. Preocupa o fato de se constatar mais uma vez que o principal partido de oposição ao governo do Partido dos Trabalhadores está perdido e sem uma noção clara do que representa para a democracia brasileira. Já virou chavão dizer que uma democracia é tanto mais forte quanto forte é a oposição. Nesse quesito vamos mal: os liberais não conseguiram se reinventar com a criação dos Democratas, e o PSDB, como se vê no episódio do senador Nunes Ferreira, é incapaz de um mínimo de visão política de médio prazo.

Aloysio Nunes Ferreira não é apenas o primeiro senador do PSDB a ser eleito por São Paulo, nos últimos dez anos, dando seguimento a uma linhagem que, entre outros, teve Franco Montoro, Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Isso para não falar do próprio José Serra. É também o senador mais votado da história, até agora, tendo contabilizado 11 milhões de votos nas eleições de outubro de 2010, contrariando o que à época diziam todas as pesquisas de opinião. Esse é um capital político que os tucanos de São Paulo decidiram ignorar por ter resolvido optar por "lideranças regionais" em seu programa partidário, como quer fazer crer Geraldo Alckmin.

O processo de resgate do PSDB histórico que a direção partidária afirma ter desencadeado, evidentemente, não tem como prescindir de um senador com essas credenciais. Assim como não pode prescindir de José Serra e dos 43 milhões de votos que ele foi capaz de atrair para a oposição no segundo turno das eleições presidenciais de 2010. O PSDB já cometeu várias vezes esse erro, ao ignorar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nas três últimas eleições presidenciais - uma com Alckmin, em 2006, e as outras duas com o próprio Serra (2002 e 2010).

"No próximo programa, todos estarão incluídos, prestigiados e participando do horário do PSDB", tentou consertar Geraldo Alckmin, como se a reclamação de Nunes Ferreira fosse por uns minutos a mais na televisão, quando, na realidade, o senador questiona métodos e procedimentos que aos poucos vão transformando o PSDB numa sigla marginal. "Vamos bem, assim... ", lamentou Nunes Ferreira, ao tornar público seu inconformismo com a manobra dos novos dirigentes tucanos.

O PSDB foi um partido importante na construção e consolidação da democracia brasileira - embora tenha sido fundado só em 1988 a partir de uma dissidência do PMDB - e liderou com sucesso o programa de estabilização da economia nacional, a partir do lançamento do Plano Real, em 1994, o mais bem-sucedido contra a inflação crônica que devastava o país. O que seus eleitores e algumas camadas da sociedade esperam dele é que tenha competência para exercer a oposição. Até agora, o que se tem visto é uma tentativa desajeitada de copiar o estilo PT de fazer oposição pela oposição. É possível que nem o próprio PT se repita, depois de ter sido governo, quando um dia deixar de ser governo.

Uma oposição forte, repita-se, é fundamental para a consolidação da democracia. É assim que ela se credencia para a alternância no poder, como se credenciou o PT após quatro eleições, um partido solidário, apesar de sua infinidade de tendências internas. Enquanto as veleidades pessoais de seus líderes estiverem acima dos projetos de Nação, dificilmente o PSDB poderá agregar apoios para se tornar uma alternativa de poder séria aos olhos da sociedade.