Título: TAM e Gol rejeitam plano do governo para a Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2004, Empresa, p. B4

Sondadas pelo governo a participar da reestruturação da Varig, TAM e Gol já deram sua resposta: não topam o plano oficial tal como ele está sendo desenhado. Elas recusam um dos principais pontos previstos pelo governo: a manutenção do nome Varig, com uma composição acionária completamente distinta da atual. Estão dispostas a ficar com as rotas deixadas pela companhia rio-grandense e aceitam investir pesado para renovar a frota, talvez até com empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mas preferem fazer tudo isso em vôo solo e seguindo as suas próprias estratégias. O assunto tem sido tratado com total discrição, a ponto de reuniões do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, com executivos do setor ficarem de fora da agenda que é divulgada para a imprensa. Foi o que aconteceu na quinta-feira passada, quando Alencar ouviu em seu gabinete, do presidente da TAM, Marco Antonio Bolonha, a relutância em aderir ao desenho atual do plano. A idéia do governo é dividir em duas partes a atual Varig, deixando o passivo para ser liqüidado extra-judicialmente e promovendo uma reestruturação societária dos ativos (mais o Smiles e o fundo de pensão Aerus). Para quem herdar o negócio, o governo sinaliza com financiamento e aportes de até R$ 1 bilhão do BNDES. E procura convencer a TAM e a Gol a participar desse processo, do qual resultaria a "nova" Varig. As duas aéreas vêem dois problemas: aceitam investir nos ativos, mas não querem ficar com qualquer passivo e não querem uma "nova Varig". Para elas, seria um contra-senso participar de uma empresa reestruturada que, em última instância, concorreria no mercado de aviação civil com as próprias TAM e Gol. Preferem que as rotas sejam compartilhadas entre ambas. Reconhecem a simpatia do público pela Varig, mas estão convictas de que a marca da Fundação Rubem Berta está muito desgastada, associada a uma crise permanente e a atrasos em vôos. Acham que hoje despertam mais confiança nos consumidores. As linhas sob concessão da Varig, principalmente as internacionais, são rentáveis e as duas estão dispostas a assumi-las. Seria, de certa forma, apenas acelerar (muito) os planos de ambas. A Gol começa a se aventurar em rotas para a América do Sul e a TAM volta a expandir vôos para o exterior. Portanto, o que elas mais querem são os "slots " da Varig - autorização dada pelos aeroportos para que as empresas pousem e decolem. Fontes do mercado dizem, por exemplo, que a TAM vê com grande interesse a inauguração de vôos para Nova York. Mas, ao pedir autorização para descer no aeroporto John F. Kennedy, conseguiu apenas um horário para pousar durante a madrugada - algo pouco viável comercialmente. Enquanto isso, a Varig só está fazendo um dos dois vôos diários a que tinha direito e perdeu o "slot" em um dos aeroportos mais disputados do mundo. O mesmo teria acontecido com as linhas para Roma e Porto. Se assumirem os ativos da Varig, sem porém manter a bandeira da Fundação Rubem Berta, TAM e Gol comprometem-se a renovar a frota. Os aviões de modelo MD-11 usados em boa parte das rotas internacionais da Varig gastam 35% a mais de combustível do que os A-330 da Airbus (utilizados pela TAM) ou os 777 da Boeing (Gol).