Título: Seguro contra calote na UE dispara
Autor: Oakley,David
Fonte: Valor Econômico, 05/10/2011, Finanças, p. C1

Às vezes um número conta melhor uma história. Ontem esse número parecia ser os swaps de defaults de créditos bancários da zona do euro, os CDS, que mostram que o sistema financeiro do bloco nunca esteve tão perto de um colapso nos últimos anos.

O índice iTraxx de swaps de defaults de crédito, que mede o risco de calote dos bancos da zona do euro, saltou acima dos níveis vistos à época do colapso do banco de investimentos americano Lehman Brothers em 2008. Isso reforça os temores de que muitos bancos estejam tendo dificuldades para se financiar à medida que a crise da dívida da Europa se agrava.

Mas isso, segundo analistas, também reabriu uma discussão: serão os CDS, uma forma de seguro contra defaults de bônus, na verdade a "cauda balançando o cachorro", uma vez que sua capacidade de frequentemente se movimentar com mais rapidez que a maioria dos outros títulos permite a eles influenciar os mercados de bônus e ações, que são muito maiores e mais lentos?

Alan Wilde, diretor de renda fixa e câmbio do Barings, diz: "No setor bancário, os preços dos CDS tendem a se movimentar antes dos preços das ações ou dos bônus, mas isso não significa necessariamente que eles estão movimentando outros mercados".

Outro banqueiro afirmam que o mercado de CDS é o "canário na mina de carvão", emitindo sinais de alerta para outros lugares e potencialmente provocando ondas de vendas de ações e bônus maiores que de outra forma elas poderiam ocorrer.

Certamente os políticos vêm tentando culpar o mercado de CDS pelas quedas em outros mercados. Os gregos disseram que os CDS foram os responsáveis, no ano passado, pela queda dos preços de seus bônus soberanos, mas uma investigação da Comissão Europeia deixou claro que os CDS não influenciarem os preços dos bônus.

Uma medida na Europa para proibir os chamados negócios a descoberto com CDS - a compra ou venda desses instrumentos sem ter a posse de fato desses papéis - não foi implementada até agora nos maiores centros financeiros da região, como Londres. Isso porque os fundos de hedge e outros investidores parecem ter convencido as autoridades reguladoras de que não há uma ligação causal entre os CDS e outros mercados.

Entretanto, a alta do índice iTraxx de CDS financeiros subordinados ao seu nível mais alto desde que ele foi lançado em 2004, para 566 pontos-base - uma alta de 257 pontos-base desde 1º de agosto é considerada uma boa medida do sentimento de enfraquecimento, não só do sistema bancário como de toda a zona do euro.

Cada ponto-base em um CDS representa € 1.000 para proteger € 10 milhões em dívidas. Assim, um aumento sugere que uma instituição oferece um risco maior de entrar em default.

O índice iTraxx mostra como as preocupações desta semana com o recebimento ou não pela Grécia da próxima parcela de seu plano de socorro estão minando o sentimento nos bancos e despertando temores sobre a capacidade dessas instituições de se financiar, o que por sua vez desencadeia uma queda nos preços dos bônus soberanos.

As incertezas em relação a Grécia atingiram grandes bancos americanos e instituições europeias. O CDS do Bank of America aumentou para 466 pontos-base, o do Morgan Stanley subiu para 603 pontos-base, enquanto que em grandes bancos europeus, como o BNP Paribas, da França, a alta foi para 291 pontos-base.

No Reino Unido, o CDS do Royal Bank of Scotland (RBS) registrou alta para 405 pontos-base. Esses preços subiram muito no último mês.

Michael Hampden-Turner, estrategista de crédito do Citigroup, acrescenta: "É fácil para os CDS subirem quando você não tem ninguém do outro lado da operação".

"Há uma falta de confiança fundamental em todo o sistema", afirma um analista de um grande banco de Wall Street. "Isso porque ninguém sabe quais nações darão calote e quais serão as perdas para os bancos."

Os bancos europeus em grande parte também não estão conseguindo nos últimos meses emitir o chamados títulos preferenciais de dívida não securitizados, que não são lastreados em garantias específicas próprias. "A grande maioria do financiamento vem sendo feito hoje numa base garantida", para proporcionar um colchão de proteção adicional aos investidores nervosos, afirma Huw van Steenis, analista bancário do Morgan Stanley.

Um dos principais motivos do mercado de CDS ser considerado importante e poder ajudar outros mercados, em vez de provocar suas quedas, é o uso do seguro como meio de tentar reduzir os riscos.

Os bancos sempre compram bônus e em seguida compram CDS para reduzir o risco de ter os bônus em carteira. Sem a capacidade de fazer hedge através dos CDS, os preços dos bônus podem cair.

A alta dos custos dos CDS, porém, tornou-se um problema, uma vez que muitas instituições estão achando muito caro comprar os instrumentos de proteção (hedge), o que provocam uma reação em cadeia em outros mercados, especialmente o de bônus soberanos.

O mercado de CDS também é muito menor que os mercados de bônus que lhe dão suporte, com estimativas variando de algo entre 5% e 30% dos bônus em circulação nos mercados bancários e soberanos. Isso sugere, segundo muitos banqueiros, que ele não é tão influente quanto os políticos querem fazer crer.

Elisabeth Afseth, estrategista de renda fixa da Evolution Securities, diz: "O tamanho pequeno do mercado de CDS sugere que ele não é a "cauda balançando o cachorro", ou os mercados de bônus, que são muito maiores. Ele pode se movimentar com maior rapidez, mas ele simplesmente reflete o sentimento e também a capacidade de financiamento dos bancos".

Outro banqueiro da City de Londres diz: "Você rapidamente se vê numa situação em que os spreads não representam a probabilidade de default. Pode ser apenas o medo ou o risco de contrapartida. Por esse motivo, o CDS é uma boa medida e o índice iTraxx está nos dizendo que os bancos estão tendo dificuldades para se financiar".

Alguns banqueiros afirmam que sem o Banco Central Europeu (BCE) atuando como um escudo para o sistema financeiro, oferecendo empréstimos ilimitados para os bancos, muitas instituições simplesmente teriam quebrado. "É isso que os preços dos CDS estão nos dizendo - e eles estão certos", afirma o banqueiro da city.