Título: Governo oferece capital de giro para atenuar câmbio
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2006, Brasil, p. A2

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo federal vai criar uma linha especial de R$ 400 milhões para financiamento de capital de giro das indústrias calçadistas. As empresas do setor amargam sucessivas quedas de exportação em função do real valorizado e já demitiram, só no Rio Grande do Sul, cerca de 18 mil empregados desde 2005.

Os recursos serão provenientes do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e as contratações ficarão a cargo do Banco do Brasil. O montante total será superior aos R$ 400 milhões, pois o programa que será anunciado na próxima semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluirá outros setores empresariais afetados pelo câmbio.

Os financiamentos serão corrigidos pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mais um "spread" de até 2,8% ao ano, explicou Dilma. O prazo para pagamento será de 12 meses, após igual período de carência. De acordo com a ministra, o governo vem "acompanhando" o comportamento do câmbio, mas não existem medidas em "gestação" contra a valorização do real.

Na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Dilma disse ainda que o BNDES deve aprovar hoje, em reunião de diretoria, o programa Moderbus para financiar a renovação da frota de ônibus de passageiros no país. A ministra relatou também que o governo estuda criar um mecanismo especial de crédito para o setor de máquinas agrícolas, outro que vem perdendo vendas externas.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse ontem que está preocupado com as demissões que começaram nos setores exportadores. Depois de a Volkswagen avisar que demitirá milhares de trabalhadores, a General Motors anunciou segunda-feira que cortará 960 postos em São José dos Campos (SP) por conta de perda com exportações. "O câmbio está gerando um problema para o setor exportador", disse ele.

"Eles reajustam os preços e automaticamente as vendas no exterior caem", disse, reforçando a intenção do governo de compensar o problema cambial com linhas de incentivo à exportação. "Enquanto o ajuste no câmbio não vem", acrescenta. Para o ministro, no entanto, o problema na Volks ultrapassa a questão da perda de competitividade no exterior.