Título: Número de greves aumenta, apesar das negociações
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2006, Brasil, p. A3

A contratação de 80 mil funcionários e a concessão de reajustes salariais generosos não impediram que o número de greves crescesse no governo Lula. O secretário de Recursos Humanos, Sérgio Mendonça, reconhece que houve "exacerbação" da parte de algumas categorias dos servidores públicos. "É um fato (o aumento de greves). Há uma incompreensão. Antes, havia uma expectativa exagerada de que resolveríamos problemas acumulados de longa data", diz Mendonça.

Dados do Dieese, de 2004 - as informações de 2005 ainda não estão disponíveis -, mostram que o setor público liderou, com 61,3% do total, o número de greves. Naquele ano, o governo federal enfrentou 31 greves, o equivalente a 10,3% das paralisações ocorridas no setor público. A novidade é que, pela primeira vez, o governo se dispôs a negociar.

Sérgio Mendonça lembra que a Constituição de 88 assegurou aos servidores públicos o direito de associação e também o de greve, mas não estabeleceu o direito de negociação. O governo Lula iniciou as negociações. Na opinião de Mendonça, chegou o momento de regulamentar o direito de greve, uma idéia já lançada publicamente pelo presidente Lula.

"Tem que ter o direito de greve, mas com o compromisso dos funcionários com os serviços essenciais. A Mesa de Negociação Permanente não pode ser só um espaço de reconhecimento dos direitos dos funcionários", diz o secretário.

Mendonça avalia que a política de pessoal posta em prática no mandato de Lula "zerou o jogo". "Tínhamos uma panela de pressão fechada. Ao abrirmos essa panela, houve um conjunto de áreas do governo, senão todas, pressionando por reposição de quadros e salários. Daqui em diante, a política tem que ser feita de forma seletiva", adverte.

O secretário não tem certeza se essa política melhorará a qualidade dos serviços prestados pelo Estado. A tendência é que isso aconteça, mas ele explica que o adesão do servidor ao Estado não é algo garantido, incondicional.

Mendonça conta que há outros problemas a serem enfrentados na gestão de recursos humanos. Um deles é a diferença salarial entre os três poderes da República. Enquanto o funcionário do Executivo custa, entre salários, encargos e vantagens, R$ 3.742,60 por mês ao erário, o do Legislativo custa R$ 10.800,90 e o do Judiciário, R$ 12.593,80. "As pessoas vão passando pelo Executivo em direção ao Judiciário e ao Legislativo. Isso dificulta a retenção no governo da mão-de-obra mais qualificada." (CR)