Título: No terceiro trimestre, só o Sul escapa da desaceleração
Autor: Martins,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2011, Brasil, p. A3

A perda de fôlego da economia no terceiro trimestre do ano foi mais intensa nas regiões Sudeste e Nordeste, ao passo que o Sul apresentou forte dinamismo. Enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) caiu 0,32% nos três meses encerrados em setembro em relação ao trimestre anterior, feitos os ajustes sazonais, o indicador para o Sul avançou 2,28% em igual período. As economias do Sudeste e do Nordeste tiveram expansão bem mais tímida nessa comparação: 0,25% e 0,45%, respectivamente.

Por Estados, os dados da região Sul mostram comportamentos bastante distintos. No terceiro trimestre, o salto de 7,7% da produção industrial no Paraná mais que compensou o recuo de 0,3% do setor em Santa Catarina, enquanto nesse Estado o desempenho do varejo lidera o crescimento do país no período: a alta no volume de vendas é de 4% entre o segundo e o terceiro trimestres, mais que o dobro da média nacional de 1,8%.

O Rio Grande Sul pouco contribuiu para o avanço da economia regional no período. O Índice Trimestral de Atividade Produtiva do Estado (Itap) recuou 0,3% no terceiro trimestre em relação ao segundo, com ajuste sazonal, e confirmou a tendência de desaceleração verificada de abril a junho. Calculado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), vinculada ao governo gaúcho, o indicador tem abrangência de 70% do valor agregado da economia estadual e é considerado uma prévia do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) local.

Segundo economistas, o comportamento do comércio catarinense no terceiro trimestre não teve nada de excepcional. "Esse dado é mais estrutural do que conjuntural", avalia José Álvaro Cardoso, supervisor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina. Ele lembra que o mercado de trabalho no Estado é um dos mais apertados do país.

Em 2009 (último dado disponível), segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, a taxa de desocupação catarinense era de 5,3%, maior apenas do que a de Alagoas. "Algumas regiões do Estado têm pleno emprego. Há empresas na região que não conseguem mão de obra", situação que abre espaço para aumentos reais maiores nos reajustes dos trabalhadores e, consequentemente, estimula o comércio, diz Cardoso.

Acompanhamento fixo do Dieese com 35 acordos coletivos em Santa Catarina mostra que, de janeiro a setembro, 92,1% dos reajustes superaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), percentual igual ao registrado em todo o ano passado. Também houve "discreta melhora", na avaliação do Dieese, na composição dos aumentos. Em 2010, do total de acordos acompanhados, a maior faixa (12) se situou no patamar entre 0,51% e 1% acima do INPC. Neste ano, 17 acordos conseguiram elevação entre 1,01% e 1,5% maior que a inflação no período.

No Paraná, analistas da indústria também não enxergam com muita surpresa o dado mais favorável no terceiro trimestre. No ano, o Estado acumula avanço quatro vezes maior do que a produção nacional: 4,4%. Quem puxa esse ritmo é o setor automobilístico.

O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, observa que, dos 27 segmentos pesquisados pelo IBGE, apenas metade está presente no Estado, o que torna a medição da produção paranaense muito oscilante. "Há muita volatilidade nos setores de automóveis, refino de petróleo e álcool e edição gráfica, indústrias com forte presença no Paraná."

Para o presidente da Federação Estadual das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, mesmo com a queda em setembro após as férias coletivas das montadoras, a produção da indústria automobilística teve um importante crescimento no terceiro trimestre, o que explica boa parte do bom resultado. "Estamos fortes na cadeia automotiva." As vendas reais do setor no Estado tiveram desaceleração entre o segundo e o terceiro trimestre, mas ainda estão entre os destaques. A indústria automobilística também tem forte geração de empregos no período: o nível de ocupação cresceu 17,7% entre o segundo e o terceiro trimestres. (Colaborou Sérgio Ruck Bueno, de Porto Alegre)