Título: Saldo comercial pode diminuir até 50% no próximo ano
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Fonte: Valor Econômico, 22/11/2011, Brasil, p. A4
A esperada piora nos termos de troca (a relação entre preços de exportação e importação) vai derrubar o superávit comercial da casa de US$ 30 bilhões neste ano para US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões no ano que vem, acreditam especialistas em comércio exterior. Um recuo maior requer um tombo das commodities, que hoje não parece o cenário mais provável.
O economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, acredita que os preços de exportação em 2012 ficarão 8% abaixo da média de 2011, enquanto o volume de vendas deve crescer 2%. Com isso, o valor das exportações cairia de US$ 255 bilhões para US$ 240 bilhões. As importações, por sua vez, devem ter queda menor, de US$ 225 bilhões para US$ 220 bilhões, com preços recuando 5% e os volumes aumentando 3%. Desse modo, o saldo comercial encolheria de US$ 30 bilhões em 2011 para US$ 20 bilhões em 2012.
Os preços de importação tendem a cair menos do que os de exportação, uma vez que o Brasil compra principalmente produtos manufaturados, bens cujas cotações costumam recuar com menos força que as commodities, por serem menos voláteis. Em 2009, sob o efeito do agravamento da crise do ano anterior, as cotações dos produtos básicos caíram 17,6% e as dos manufaturados, 5,9%.
O economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio (Funcex), Fernando Ribeiro, acredita que, na média, os preços de importação podem ficar estáveis em relação aos deste ano. Nas suas contas, que incluem cotações de exportações estáveis ou com uma queda de até 5%, isso faria o superávit comercial encolher da casa de US$ 30 bilhões para US$ 20 bilhões ou um pouco menos, previsão muito próxima da de Silveira.
Com base em estimativas bastante preliminares, o presidente em exercício da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, considera possível um saldo comercial entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões no ano que vem - para este ano, projeta um superávit US$ 28 bilhões.
A possibilidade de um déficit comercial em 2012 parece pequena. Transformar um superávit de US$ 30 bilhões num ano num rombo exigiria um tombo muito forte das commodities, o que não pode ser descartado, especialmente dada as incertezas na Europa, mas é hoje visto como improvável. A concentração da pauta de exportações em produtos primários, porém, é um risco, como ressalta Castro. O país fica exposto às oscilações de preços fora do seu controle. Um tombo mais acentuado das commodities, em caso de agravamento do cenário externo, poderia derrubar o superávit para menos de US$ 10 bilhões, diz Ribeiro. (SL)