Título: Rivalidade mortal
Autor: Sacramento, Mariana; Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Política, p. 2

Desafeto político é o principal suspeito do assassinato do prefeito deAlto Paraíso (GO), Divaldo William Rinco PSDB)

Uma disputa política iniciada em 2008, em Alto Paraíso (GO), terminou em tragédia na noite de quinta-feira. O prefeito do município, Divaldo William Rinco (PSDB), foi assassinado com três tiros pelas costas, emfrente a um bar, depois de sair deumareunião com correligionários.Oprincipal suspeito do crime que abalou a pequena cidade de sete mil habitantes é o marceneiro Ary da Abadia Garcês, 55 anos, pai do vereadorHuebertonGarcês (DEM), que naeleição passada apoiou a reeleição do ex-prefeitoUiter Gomes de Araújo (PP). A diferença entreDivaldo eUiter nas urnas114 votos gerouoimpasse,queperdurou até o ano passado. A polícia aindanãosabe a motivaçãodocrime e, até a noite de ontem, o suspeito não havia sido localizado.

Na quinta-feira, Divaldo conversava sobre políticacomo viceprefeito, Alan Gonçalves Barbosa, o gerente de esporte do município, conhecido como Serginho, e com o major da reserva da PolíciaMilitar, José da Cruz Batista.

Além dos homens, duas mulheres, Rosivan Falcão, aManinha, e a diarista Leivani Barbosa estavamsentadas à mesa do bar. A gente falava sobre os candidatos.

Eleme dizia para votar no Perillo (o candidato do PSDB ao governo, Marconi Perillo). Em dado momento, vi o Ary entrar no bar e pedir uma cerveja no balcão. Logo depois ele saiu e ficou do lado de fora, contou Batista.Oencontro político durou cerca de 45 minutos e terminou às 21h, quando Divaldo e Alan deixaramo bar.

Do lado de fora, o suspeito do assassinato chamou o adversário político para uma conversa. O viceprefeito se despediu e deixou os dois a sós. Ele deu a entender a Ary que queria ter uma conversa particular. Apesar das divergências, nunca pensei que algo grave poderia acontecer, conta Alan. Após o vice deixar o local, o prefeito recebeu três tiros nas costas a uma distância de aproximadamente três metros. As balas atingiram a cabeça, numa região próxima à orelha, os pulmões e o coração, além da nuca. Ferido, ele foi levado ao hospital local, mas não resistiu aos ferimentos.

Ainda à noite, seu corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Formosa (GO).

Familiares e amigos garantem que o prefeito nunca tinha sofrido qualquer ameaça ou intimidação por parte do marceneiro.

Eles cresceram juntos. A mãe de Divaldo ensinou ele (Ary) a ler.

Está todo mundo chocado. Ele não era só o prefeito, mas um amigo de todos, relata o morador Aldo Galli, 72 anos. O suspeito, no entanto, já havia mostrado sinais de descontrole em 23 de maio, durante a Festa do Divino.

Na ocasião, ele teria apontado uma arma para o secretário de Saúde, que não havia permitido a entrada de um trio elétrico no local.

Eu falei que a festa tinha caráter religioso. Foi então que ele apontou um revólver para mim e disse que só não me mataria em consideração à minha mulher e aos meus filhos, relata o secretário de Saúde, Adervânio Pires.

O incidente tem as mesmas características do que ocorreu na quinta-feira, diz o procurador da prefeitura, Ismael Neiva, que acompanhou o corpo até o IML de Formosa (GO). Até o fechamento desta edição, Ary não tinha sido encontrado. A polícia que conta com ajuda de agentes de Formosa na investigação encontrou 22 munições calibre .22 no caminhão de Ary. O corpo do prefeito foi velado no Ginásio de EsportesUlisses S. da Silva,em Alto Paraíso. A emoção marcou a cerimônia iniciada às 18h30,com a presença de duas mil pessoas.

Diferença As desavenças emAlto Paraíso tiveram início há dois anos. Os adversários nunca aceitaram a derrota. Tentaram de todas as formas cassar o mandato de Divaldo, mas não conseguiram e tiraram com as próprias mãos, disse Adervânio. Para a chapa derrotada, o processo eleitoral 2008 deveria ser anulado porque Divaldo teria comprado votos para se eleger. Argumento que não foi aceito pela Justiça, afirmou o vice-prefeito.

As diferenças entre Ary e Divaldo se acentuaram com o início da campanha deste ano. Os dois mais uma vez ficaramde lados opostos. Enquanto Ary e o filho apoiam para o governo de Goiás a candidatura de Vanderlan Cardoso (PR), que tem como vice o ex-secretário de segurança Ernesto Roller, Divaldo comandava no nordeste goiano a campanha do candidato a governador do estadoMarconi Perillo, do PSDB.