Título: Tarifas antidumping também são usadas contra chineses
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2006, Especial, p. A12
Além das salvaguardas, os empresários brasileiros contam com outro instrumento de defesa comercial para se proteger das importações vindas da China: as tarifas antidumping. Para abrir uma investigação de dumping, basta comprovar que o produto chega no Brasil abaixo do preço praticado no país de origem. No caso das salvaguardas, é necessário demonstrar que um surto de importação do produto está provocando dano à indústria nacional.
O secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, alerta o empresariado para esses outros recursos da defesa comercial e reforça que os processos antidumping são mais simples.
Só que no caso de China, há um complicador. Como o gigante asiático é um país comunista, os empresários evitam comparar os preços praticados no Brasil e na China nos processos de dumping. Adotam as cotações utilizados em um terceiro país produtor, o que, invariavelmente, aumenta as margens antidumping.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu reconhecer a China como economia de mercado. Nesse caso, os empresários brasileiros não poderiam mais utilizar esse tipo de expediente.
O governo iniciou no mês passado duas investigações de dumping contra a China: ferro de passar roupa e chapas pré-sensibilizadas de alumínio, utilizadas na impressão de jornais e revistas. Nesses processos, não levou em conta o status prometido por Lula aos chineses. Mesmo assim, o setor privado está temeroso. "Quando o governo reconhecer a China como economia de mercado, o processo vai por água abaixo", diz um empresário.
A investigação de dumping contra os ferros de passar roupa deixa frente a frente importantes indústrias instaladas no Brasil. Enquanto Black & Decker e a Walita produzem no país, Mondial, Mallory e Britania estão importando da China.
"O novo status de economia de mercado da China prometido pelo governo atrapalha um pouco', reconhece Domingos Dragone, diretor industrial da Black & Decker. Ele ressalta, porém, que a empresa já perdeu muita participação no mercado. A companhia estima que a fatia do seu ferro a vapor encolheu de 70% para 50% nos últimos anos.
A investigação de dumping para chapas de impressão foi solicitada pela Agfa e pela Indústria Brasileira de Filmes (IBF). A Agfa é uma multinacional belga - uma das maiores do setor no mundo. Fabrizio Valentini, diretor-presidente da empresa no Brasil, reclama que as promessas do governo brasileiro de um novo status para a China atrasaram a investigação. Ele diz que a Agfa perdeu 30% de market share nos últimos três anos. (RL)