Título: Paraguai procura parceiros para aumentar aportes em tecnologia
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 17/05/2006, Agronegócios, p. B11
Recorrentemente criticado por seus vizinhos em razão de problemas relacionados à febre aftosa e à venda de soja transgênica sem certificação nas fronteiras, o Paraguai quer estreitar suas parcerias na área agrícola com Brasil e Argentina. Dono de um rebanho de 10 milhões de cabeças de gado bovino e uma produção de grãos próxima a 15 milhões de toneladas por safra, o país pretende investir parte de seu tímido orçamento em pesquisas e assistência técnica no campo.
São essas as principais diretrizes anunciadas por Carlos Abel Santa Cruz, novo ministro da Agricultura e Pecuária do Paraguai. Engenheiro agrônomo, Santa Cruz assumiu a pasta no início de maio, substituindo Gustavo Ruiz Díaz, que renunciou ao cargo alegando pressões políticas sofridas dentro do governo.
"Pedi ao ministro [da Agricultura do Brasil] Roberto Rodrigues apoio para levar adiante projetos na área de pesquisa e capacitação de técnicos, para levar tecnologia do Brasil aos produtores paraguaios", disse o ministro ao Valor durante recente e rápida passagem pelo Brasil.
Santa Cruz disse, ainda, que o plantio de cana também vem sendo estimulado no Paraguai, onde a área plantada atual é restrita a 75 mil hectares. No curto prazo, afirmou, a meta é chegar a 85 mil hectares, com foco na produção de etanol. O país negocia uma parceria com a estatal brasileira Embrapa para a definição de variedades de cana mais produtivas e adaptadas ao clima paraguaio.
Na área de combustíveis, recentemente o ministro assinou um acordo com a Secretaria de Agricultura, Pesca e Pecuária da Argentina para a transferência de tecnologia em biodiesel. O governo paraguaio quer implantar uma planta-piloto de biodiesel à base de sebo animal, aproveitando a matéria-prima abundante.
"Também estamos fazendo pequenos acertos na pecuária para receber uma missão técnica da União Européia, que vai vistoriar o país para habilitá-lo à exportação de carne bovina", afirmou Santa Cruz. O país é reconhecido pela Organização Internacional de Epizootias (OIE) como livre de febre aftosa com vacinação e não exporta à UE há cerca de três anos apos problemas sanitários.
Conforme Santa Cruz, o governo paraguaio está trabalhando em conjunto com os pecuaristas para que a vacinação do rebanho do país contra a aftosa seja efetiva. Hoje com 10 milhões de cabeças de gado, o Paraguai quer chegar a 15 milhões em três ou quatro anos. "Mas isso demanda forte investimento financeiro. Por isso estamos buscando crédito de longo prazo a um custo baixo para os pecuaristas". O governo destinou este ano à pecuária US$ 8,9 milhões em crédito gerenciado pelo Banco Nacional Del Paraguay. Para o segmento de grãos, o orçamento de crédito agrícola é de US$ 3,6 milhões. "Queremos impulsionar fortemente a adoção da assistência técnica aos pequenos e médios produtores, para que este setor tenha um crescimento importante", disse Santa Cruz. De acordo com o ministro, apenas 20% da produção agrícola no Paraguai recebe hoje algum tipo de assistência técnica.
Santa Cruz assumiu o cargo em um momento em que produtores paraguaios enfrentam graves perdas devido a problemas climáticos - especialmente a soja, principal produto agrícola exportado pelo Paraguai. Segundo dados do ministério, a produção de soja nesta temporada 2005/06 deve ficar próxima a 3 milhões de toneladas, ante as 3,5 milhões da safra anterior. O país também mantém uma disputa com a multinacional americana Monsanto em torno da definição da cobrança de royalties sobre o uso das sementes transgênicas de soja Roundup Ready (RR).
Antes de assumir o ministério, Santa Cruz ocupou por mais de dois anos a presidência do Crédito Agrícola de Habilitação - órgão estatal de financiamento a pequenos agricultores. A mudança no ministério faz parte de uma série de alterações feitas pelo presidente Nicanor Duarte Frutos no início de maio. Em meio à crise política, Frutos também substituiu os comandantes da Força Aérea, Exército e Armada, além dos dirigentes da petroleira Petropar e da destilaria Cañas Paraguayas.