Título: Governo mantém capitalização
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 21/08/2010, Economia, p. 14

Data de 30 de setembro para a venda de ações da Petrobras está confirmada, segundo o Ministério da Fazenda

Em meio às pressões do mercado para uma definição sobre o valor do preço do barril do petróleo que será utilizado como base do processo de capitalização da Petrobras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem no Rio que o governo mantém a data de 30 de setembro para realizar o reforço do capital da petrolífera. Nós estamos dentro dos prazos e, portanto, vamos procurar cumpri-los. Fica mantido aquilo que a Petrobras vem dizendo nas suas informações, afirmou o ministro.

O anúncio da capitalização da estatal foi feito no fim de 2009 e, além da demora para definir o preço do barril, o processo vem sendo bombardeado de críticas por ter sido adiado e agora por estar muito próximo das eleições presidenciais, cujo primeiro turno será em 3 de outubro.

Seguindo o cronograma do Ministério de Minas e Energia (MME), a Petrobras e a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entregaram na quinta-feira ao governo a avaliação preliminar das certificadoras referente ao valor do barril do petróleo da camada pré-sal (localizada a mais de 6 mil metros abaixo do nível do mar) nas áreas não licitadas da Bacia de Santos (SP) e passíveis de inclusão na cessão onerosa. O ministro do MME, Márcio Zimmermann, informou que há uma expectativa de que esse valor seja definido na próxima segunda-feira, dia 23, quando haverá o confronto dos números das duas avaliações. No entanto, os dois relatórios conclusivos das certificadoras serão entregues somente no fim deste mês.

Ontem, a estatal divulgou um comunicado ao mercado no qual confirmou a entrega do documento ao governo. Conforme a nota, o encaminhamento do relatório preliminar feito pela certificadora independente DeGolyer and MacNaughton marca o início das negociações para definição do preço da cessão onerosa. O preço final terá como referência as avaliações independentes contratadas pela Petrobras e pela ANP . Na véspera, a ANP informou em comunicado que entregou o relatório preliminar da empresa Gaffney Cline ao governo.

Enquanto o mercado espera um preço médio para o barril de US$ 5 a US$ 6, as especulações são que o governo prefere um valor bem mais alto, alguns dizem que até o dobro da média prevista pelo mercado. Isso porque, com a cessão onerosa no processo de capitalização da estatal, a União pagará pelas ações da Petrobras em barris enquanto os acionistas minoritários que quiserem manter seu quinhão deverão comprar em dinheiro. Com isso, os mais recentes rumores que circulam no mercado são de que há uma divergência muito grande sobre os valores das duas certificadoras. A contratada pela ANP teria avaliado o preço do barril da camada pré-sal entre US$ 10 e US$ 12. Já a consultoria contratada pela estatal teria considerado um valor de US$ 6 a US$ 8.

O ministro Mantega rebateu dizendo não saber de onde surgiram esses números. Não sei quem falou em discrepância. Ninguém está autorizado a falar sobre isso nem sobre discrepância (dos preços), disse. Ele não confirmou os valores sugeridos para os barris, mas apenas que o governo recebeu os dados, dizendo que eles precisam ser analisados por uma área técnica. Vamos nos basear objetivamente nos resultados técnicos. Não haverá nenhuma manipulação nem para um lado nem para o outro, completou.

Desgaste acionário O desgaste do processo de capitalização da Petrobras, anunciado no fim do ano passado, continua pressionando para baixo o preço das ações da companhia desde janeiro. Os papéis PN (preferenciais, sem direito a voto) fecharam ontem o pregão da Bovespa ao mesmo valor da véspera, a R$ 26,78. Na semana, a queda acumulada foi de 3,18% enquanto que no ano o recuo chega a 25,39%.

Com isso, o valor da companhia já encolheu R$ 78 bilhões e corre o risco de perder o posto de maior empresa do país para a Vale em valor de mercado, cujas ações preferenciais caíram 1,25% ontem, para R$ 43,35. No acumulado da semana, os papéis da mineradora subiram 1,07% e, no ano, 3,58%.

Apesar de o cronograma da capitalização estar mantido, muitos analistas de mercado acreditam que a estatal não conseguirá fazer o aumento de capital neste ano, muito menos cumprir o plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2014. Essas incertezas em torno da Petrobras influenciaram o comportamento da Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou a sexta-feira em queda de 0,31%. O que preocupa é que no segundo trimestre do ano, a estatal registrou um lucro líquido de R$ 8,295 bilhões, metade do registrado de janeiro a março. Já o caixa da empresa encolheu 42%, para R$ 13,2 milhões.

RATING MANTIDO » A agência de classificação de risco Standard and Poors (S&P) informou ontem que não tem a intenção de rebaixar a nota da Petrobras, mesmo se a estatal não conseguir implementar neste ano o programa de capitalização. O rating da petrolífera brasileira para o longo prazo é BBB- com perspectiva de estabilidade, a mesma classificação que determina o rating soberano do Brasil. Em relatório divulgado no fim de junho, a S&P já havia feito menção sobre uma eventual dificuldade no processo de capitalização da estatal. No documento, a agência chamou a atenção para o aumento do endividamento da empresa e afirmou que está monitorando as implicações que a revisão da estratégia da companhia terá sobre sua estrutura de capital e liquidez.

Nós estamos dentro dos prazos e, portanto, vamos procurar cumpri-los. Fica mantido aquilo que a Petrobras vem dizendo nas suas informações

Não sei quem falou em discrepância. Ninguém está autorizado a falar sobre isso nem sobre discrepância (dos preços)