Título: Cepal dá razão às queixas de Uruguai e Paraguai
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Brasil, p. A3

Uruguai e Paraguai têm razão ao reclamar da falta de benefícios trazidos aos sócios menores do Mercosul, segundo mostram as conclusões de estudo dos economistas Renato Baumann e Carlos Mussi, da representação brasileira da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal). Enquanto a produção de manufaturas na América Latina cresceu, em média, 24% entre os anos 1990 a 2003, o crescimento, no Paraguai, foi de apenas 8%: e no Uruguai houve queda de 20%.

De 1990 a 2004, embora o comércio desses países com o exterior tenha aumentado, ambos registraram déficits crescentes, com importações bem superiores às vendas para outros mercados, resultado incompatível com a intenção de integrar as estruturas produtivas dos sócios, diz o estudo.

Os autores do estudo, divulgado ontem pela Cepal, lembram que as sucessivas crises dos últimos anos, e as mudanças nos cenários regional e mundial tornam impossível distinguir exatamente que resultados na economia dos quatro países-sócios podem ser atribuídos ao Mercosul. A falta de resultados positivos, especialmente em termos de emprego e renda, porém, frustra as expectativas de que o bloco seria uma alavanca para o desenvolvimento da região, e dificulta a adoção de medidas para aprofundar a integração.

Com o desenvolvimento de outros blocos regionais e a estagnação econômica no Mercosul, o bloco do Cone Sul, que chegou a representar 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial nos primeiros anos de existência, em meados da década de 90, perdeu importância e está, hoje, bem abaixo de outros grupos de países. Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ocupam, hoje, a mesma fatia do PIB mundial (2,5%) que tinham antes do bloco.

O crescimento do PIB per capita - indicador da riqueza de um país dividida pelo número de habitantes - mostra que, entre 1990 e 2005, esse índice foi baixo para o Brasil, "medíocre" para o Paraguai e decrescente para Uruguai e Argentina, a partir da segunda metade da década de 90. Entre 1991 e 2005, a média de crescimento do PIB per capita no Brasil foi de 2,4%, no Uruguai, 1,6%, na Argentina, 0,9% e zero no Paraguai.

O desemprego, nesses países, é hoje entre uma vez e meia e duas vezes maior do que em 1990. Isso explica a tendência de queda generalizada no consumo dos três países, "um quadro preocupante para o sucesso do processo de integração", segundo os economistas.

Com esse crescimento, não espanta que tenham caído também os investimentos na produção, diz o estudo. A chamada formação bruta de capital fixo, indicador da ampliação da capacidade produtiva, cresceu nos demais países bem abaixo dos já insuficientes 18% do Brasil. No Paraguai, foi de 15% e, no Uruguai, 11%. "Na medida em que o projeto de integração regional foi pensado para obter a transformação das indústrias produtivas, os resultados obtidos, no mínimo, dão margem para controvérsias", comentam os economistas.

O Uruguai teve um bom desempenho em termos de atração de investimento externo, que quadruplicou entre os periodos 1991-95 e 2001-05. Chegaram, porém, a um número absoluto ainda pequeno: US$ 308 milhões, em média.