Título: País terá diesel menos poluente
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Brasil, p. A5

Os ministros de Minas e Energia, Silas Rondeau, da Agricultura, Roberto Rodrigues, e o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, anunciaram ontem três medidas que fazem parte do que o governo definiu como " plano de redução de dependência energética " : além da antecipação em dois anos da produção de gás da Bacia do Espírito Santo e a substituição do gás natural pelo álcool nas usinas termelétricas, o governo comemorou uma inovação, a introdução do óleo vegetal no processo de refino do diesel, gerando um combustível de melhor qualidade, com menos enxofre e mais metano. " Essas medidas fazem parte do pedido do presidente Lula para permitir ao Brasil tornar-se auto-suficiente em outras fontes de energia, além do petróleo " , declarou Silas Rondeau.

O anúncio das medidas foi feito após a 6ª reunião extraordinária da Câmara Nacional de Política Energética (CNPE), no Palácio do Planalto, que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, a utilização do óleo vegetal cria um novo paradigma na produção de combustíveis. " Neste primeiro momento, três refinarias da Petrobras estão aptas para este processo: Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais " , explicou Gabrielli. O óleo vegetal que será utilizado poderá ser extraído de qualquer oleaginosa: palma, dendê, girassol, algodão ou soja.

No caso da soja, Roberto Rodrigues estima que sejam necessários 1,2 milhão de toneladas ou aproximadamente 400 mil a 420 mil hectares do produto. O ministro vislumbra novas oportunidades de emprego no campo, especialmente para os produtores de soja. " Há 30 anos, o Brasil rompeu um paradigma na produção de combustíveis, como o Programa Pró-Álcool. Hoje, temos vários países do mundo interessados na produção de etanol. Mais uma vez, o Brasil inova ao apresentar uma nova alternativa ao diesel, somando o óleo vegetal ao processo normal " , destacou Rodrigues.

O novo diesel foi batizado de HBio. A produção efetiva do novo combustível está prevista para o primeiro trimestre de 2007, o ano que vem. " A estimativa é uma produção de 256 mil metros cúbicos/ano. No biênio 2008/2009, essa produção poderá chegar a 425 mil metros cúbicos, quase o dobro " , completou Gabrielli.

O presidente da Petrobras garantiu que a inovação não vai alterar o programa de biodiesel. E ainda poderá trazer ganhos econômicos para o país. " Com um diesel de melhor qualidade, diminuiremos nossa dependência do diesel importado, o que vai alterar a relação de custo do produto no mercado interno. " Gabrielli adiantou, contudo, que o produto final não sofrerá qualquer tipo de alteração. " O diesel que chegará ao final da cadeia produtiva, com seus respectivos derivados, é o mesmo. A única diferença é que 10% de óleo vegetal será introduzido numa das etapas da produção. "

Sobre a antecipação na produção de gás da Bacia do Espírito Santo, Gabrielli reconheceu que será necessária a construção de novos gasodutos para escoar a produção, sobretudo para as regiões Sul e Sudeste. Os cálculos iniciais previam que a Bacia estaria pronta para produzir gás daqui a seis ou sete anos, mas a Petrobras conseguiu adiantar esse prazo para 2008. " Isso não tem nada a ver com a crise vivida com a Bolívia. Este anúncio faz parte de uma ordem do presidente Lula para que o Brasil obtenha sua auto-suficiência na produção de outras fontes de energia, além do petróleo " , afirmou Silas Rondeau.

A Bacia do Espírito Santo produzirá 24,6 milhões de metros cúbicos/dia, volume quase equivalente ao gás importado da Bolívia. " Não vamos abrir mão do gás boliviano, temos contratos até 2019. Trata-se de um suprimento extra de gás para consumo interno " , justificou Rondeau, lembrando que o gás da Bacia de Santos ainda não está sendo explorado.

Na mesma linha de independência energética, o governo anunciou ontem a possibilidade de substituir o gás natural pelo álcool nas usinas termelétricas. Rodrigues respondeu às reclamações dos produtores de que temem que a produção de álcool não seja suficiente para suprir a nova demanda. " Não estamos dizendo que a substituição será obrigatória. É apenas mais uma alternativa " , explicou o ministro da Agricultura.