Título: Bornhausen vence disputa por vice de Alckmin
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Política, p. A8

Depois de dois meses de uma acirrada disputa interna, o PFL escolheu ontem o senador José Jorge (PE) candidato a vice-presidente na chapa do tucano Geraldo Alckmin. Preferido pelo presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), o pernambucano derrotou por seis votos (51 a 45) o líder do PFL, José Agripino Maia (RN) - que foi apoiado pelo senador Antonio Carlos Magalhães (BA).

O placar apertado foi uma surpresa para os aliados de José Jorge, que esperavam uma vitória mais expressiva, já que ele teve fortes cabos-eleitorais, como o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, o senador Marco Maciel (PE) e o líder da bancada pefelista na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ).

"O PFL tinha duas alas. Uma queria um vice mais ativo, com mais presença. Outra queria um vice mais discreto, sem risco de atrapalhar. Eu estava nessa ala. O vice é uma função substitutiva e não executiva. José Jorge tem experiência de bastidores, vai ajudar na coordenação da campanha e é garantia de que não vai atrapalhar", afirmou o prefeito do Rio, no fim da apuração. Segundo Maia, a escolha de José Jorge "aponta para a renovação do PFL".

Mais do que uma queda-de-braço pessoal entre Bornhausen e ACM, por trás da definição do parceiro de Alckmin estava em jogo a disputa pelo comando do PFL. Agripino tem projeção nacional, uma atuação forte como líder da oposição e uma atuação partidária considerada independente. Embora afinado com Bornhausen, sempre manteve bom trânsito com ACM.

Para Agripino, que na véspera trabalhara intensamente sua candidatura, a derrota foi uma surpresa. Como líder, acreditava ser o candidato natural a vice de Alckmin e esperava ganhar. Não foi lançado por ACM, mas recebeu seu apoio público, o que contribuiu para acirrar a oposição de Bornhausen.

De acordo com aliados seus, o líder se sentiu traído, por não esperar empenho tão forte da máquina partidária contra seu nome. "Para mim, foi uma surpresa. Esperava ganhar. Eu tinha minhas contas. Muitas pessoas mudaram de opinião, forçadas por algum tipo de argumento que não tive ou por outras forças", disse.

Segundo senadores do PSDB, Alckmin manifestava reservadamente preferência por Agripino, embora sempre tenha deixado claro que respeitaria a decisão soberana do PFL. Ontem, depois da decisão, o presidenciável ligou para os dois senadores e para Bornhausen. A Agripino, teria dito, segundo tucanos: "Raspamos a trave. Espero contar com você na campanha e no governo".

Apesar da derrota, Agripino terá papel importante na campanha de Alckmin. Ontem mesmo já se reuniu com o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), pré-candidato a governador, negociando apoio a Alckmin. O vice passou o dia pregando a unidade do PFL, ponto importante do discurso que fez da tribuna. "Vou pegar a bandeira de Alckmin e, onde puder pedir voto, vou pedir de coração", afirmou da tribuna.

Com a escolha de José Jorge, ficou definido que a formalização da coligação nacional entre PFL e PSDB ocorrerá em Pernambuco, provavelmente no dia 29 de maio. O vice foi eleito em votação secreta, por meio de cédula, por um colégio especial do PFL, formado pelos quatro governadores, dois vice-governadores, 16 senadores, 67 deputados federais, dois prefeitos de capitais e cinco integrantes da Executiva Nacional sem mandato federal. Dos 96 eleitores, seis não puderam comparecer e enviaram seus votos por escrito, entre eles o governador de São Paulo. Ligado a Marco Maciel, Lembo havia manifestado apoio a José Jorge.

Esse mesmo universo havia sido consultado pessoalmente por Bornhausen sobre a escolha do parceiro de chapa de Alckmin. O próprio presidente do PFL venceu a primeira consulta, seguido de José Jorge e Agripino. Mas o líder não aceitou o resultado e propôs nova consulta, dessa vez secreta. Nos últimos dias, os dois lados reforçaram o corpo a corpo. ACM, Bornhausen e Cesar Maia acompanharam juntos a apuração. No fim, ACM e Agripino deixaram a sede do PFL e a comemoração de José Jorge foi discreta.

O pré-candidato a vice-presidente afirmou que, durante a campanha, manterá tom "moderado" em seu discurso. Apontou como prioridades fortalecer Alckmin na região Nordeste e montar as chapas majoritárias nos Estados e disse que o mais difícil será escolher quais os pontos do governo Luiz Inácio Lula da Silva serão mais atacados. "Eu mesmo tenho uma lista de 100 escândalos", disse.

Sem cantar vitória, Bornhausen disse que o partido se fortaleceu, porque a disputa foi democrática e o placar apertado mostrou que os dois têm prestígio.