Título: Petistas ainda reagem à política de alianças
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/11/2011, Política, p. A8

Apesar de os diretórios nacional e estadual paulista do PT darem como encerrada a discussão, a possibilidade de alianças em 2012 com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), ainda não foi bem digerida por parte dos petistas, como ficou claro em evento do partido para debater o cenário das eleições municipais anteontem, no Sindicato dos Químicos, em São Paulo.

O debate foi marcado, a princípio, para discutir melhor uma emenda apresentada no congresso estadual do partido em junho que proibia as coligações com o PSD, que na época ainda recolhia assinaturas para homologar seu registro na Justiça Eleitoral. A proposta causou polêmica e, depois de três recontagens de voto, o diretório estadual declarou empate, com 236 votos para cada lado. O texto não foi inserido na resolução final do encontro e ficou decidido que haveria novo debate sobre o tema.

No encontro, nem o presidente nacional, Rui Falcão, nem o estadual, Edinho Silva, falaram do PSD em seus discursos. Questionados depois, ambos disseram que o debate já estava encerrado, já que o PT decidiu, no congresso nacional, proibir alianças com os partidos de oposição à presidente Dilma Rousseff: PSDB, DEM e PPS. O partido de Kassab, de novo, ficou de fora do veto.

Para Edinho Silva, os diretórios municipais que tentarem se aliar aos três partidos de oposição ao governo federal serão alvo de intervenção e dissolução. "Essa história de que na minha cidade o PSDB é diferente, o DEM é diferente, nós já vimos nas outras eleições e não me comove, porque na disputa nacional é o palanque deles que fica mais forte, é o projeto deles que isso fortalece", criticou o presidente estadual.

A linha de pensamento foi seguida por Rui Falcão. "Tem petistas que falam em união com DEM ou PSDB para combater um mal maior. Mas não há mal maior do que [eles] combaterem o nosso projeto nacional depois", apoiou.

O presidente do diretório municipal do PT, vereador Antonio Donato, foi o único a falar sobre o PSD no discurso e, em sua opinião, a nova sigla é uma dessas que será adversária em 2014, apesar do apoio que tem dado à presidente Dilma Rousseff (PT) no Congresso Nacional.

Na análise dele, embora o partido tenha se construído de grupos descontentes em suas legendas e tenha recebido ajuda de governadores alinhados ao governo federal e até de petistas, como Jaques Wagner, na Bahia, a sigla tem DNA tucano. "Essas contradições todas não vão apagar o caráter de apoio ao [ex-governador] José Serra [PSDB]", afirmou. Serra duela com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para ser o representante da oposição em 2014.

Donato acredita que a pretensão de PSDB e PSD lançarem candidaturas separadas na capital paulista logo se tornará uma aliança, com a alternativa de ter Serra candidato a prefeito ou o PSD na cabeça de chapa, com o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, ou o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e um vice tucano - o que os quatro pré-candidatos do PSDB recusam peremptoriamente, pelo menos por enquanto. "Tudo leva a crer num alinhamento das forças conservadoras, com o Kassab virando vice do [governador de São Paulo] Geraldo Alckmin [PSDB] em 2014", avalia.

Entre críticas à política ampla de alianças do PT e ataques aos tucanos, a opinião foi compartilhada por petistas sem mandato que falaram ao fim do debate. "Será que estamos nos aliando com quem está, de fato, envolvido com o projeto do PT, ou estamos nos alinhando com traíras?", questionou o pré-candidato a prefeito de Pindamonhangaba, Camilo De Leles.

"Quando o Edinho falou que não vamos aceitar a ideia de que na minha cidade o DEM é diferente, não é verdade. Em alguns cidades, o DEM é o PSD. O DEM não é só Kassab. Também é a [senadora do PSD por Goiás] Kátia Abreu. É a [prefeita de Ribeirão Preto, agora no PSD] Darcy Vera", rebateu uma integrante do diretório estadual, Misa Boito, ligada a corrente O Trabalho, da esquerda petista.

Presidente nacional do partido, Rui Falcão defende a restrição das alianças apenas a PSDB, DEM e PPS. "O PSD, que se declara independente, não tem a coerência que tem o PT. Temos que analisar cada caso porque tem candidatos deles que apoiaram prefeitos ou deputados nossos nas eleições passadas", disse. Para Edinho Silva, Donato está analisando apenas a realidade da capital. "Temos que ter maturidade política. É legítimo o PT da capital não se aliar ao PSD, mas em outras cidades do Estado vai", afirmou.

Pré-candidato a vereador em Santos, Marcos Mendes concorda que o PSD deve se tornar um adversário em 2014, mas ressalta que outros partidos também têm alinhamento com o PSDB em São Paulo, como o PMDB e PSB. "Na Baixada Santista, o prefeito João Paulo Papa [PMDB] e o [secretário estadual de Turismo, ex-prefeito de São Vicente e presidente estadual do PSB] Márcio França têm políticas e formas de governar completamente opostas as nossas, apesar de serem de partidos aliados da presidente Dilma", ponderou.