Título: "Nosso candidato tem os meios de comunicação"
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Especial, p. A12

A seguir, os principais trechos da entrevista que o pré-candidato do PSDB ao Senado, Antonio Imbassahy, deu ao Valor:

Lalo de Almeida/Folha Imagem - 10/4/2001 Imbassahy: "Temos um projeto interessante, que é de descentralizar o poder" Valor: Quais foram as razões do rompimento com o grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães?

Antonio Imbassahy: A decisão de romper foi muito mais existencial que política. Eu não queria mais conviver num ambiente de conflito político, em que o projeto de poder está acima de qualquer coisa. Não se trata de fazer enfrentamento, até porque a gente sabe que o carlismo construiu coisas boas no nosso Estado, mas entendo que a Bahia tem que dar um passo à frente. Tem que fazer uma renovação e buscar um modelo que permita o aproveitamento pleno da potencialidade do nosso Estado. Temos um projeto interessante para a Bahia, que é de descentralizar o poder, desconcentrar decisões, valorizar a inteligência das pessoas, acreditar e confiar nos municípios e valorizar mais nossas representações.

Valor: Sua pré-candidatura ao Senado enfrenta resistência do grupo de ACM. Como o senhor vai romper essa barreira?

Imbassahy: Não aceitar a candidatura de uma pessoa não é uma coisa razoável hoje. O país vive num regime democrático. É muito importante você ter competitividade numa eleição. Quanto mais competitividade, mais você obriga o candidato a se empenhar, a melhorar seus projetos, seus programas. E é bom para o eleitor. Quem vai decidir é o eleitor.

Valor: Há 12 anos a Bahia elege senadores do mesmo grupo político. Por que mudaria?

Imbassahy: Nossa representação no Senado é do mesmo agrupamento político. É um pensamento direcionado, focado. O que quero ser é um senador que possa representar a Bahia e não apenas um pequeno grupo ou uma só pessoa.

Valor: O presidente Lula lidera as pesquisas na Bahia. Quais são as chances de o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, crescer no Estado?

Imbassahy: Na medida em que ele for mais conhecido, se popularizar, mostrar sua história de vida, e, mais do que isso, dizer com muita clareza o que vai fazer para melhorar a vida do cidadão da Bahia. Programas que ele fez em São Paulo na área da educação e de ação social devem ser apresentados como um projeto nacional. O Brasil é um país diferente e você tem que particularizar um pouco. Ele tem que ter essa percepção, compreender nossa identidade. Aí, sim, ele tem um campo extraordinário para crescer.

Valor: O PFL apóia Alckmin e exige que ele não apóie sua candidatura. O senhor acha que tem muito a perder com isso, levando-se em conta que a população baiana tem manifestado preferência por Lula?

Imbassahy: É importante nós termos um candidato que possa expressar para o Brasil um futuro de retomada do crescimento econômico, de práticas corretas da administração pública. O que a gente sabe é que ele foi um grande governador de São Paulo e está credenciado para ser um grande presidente.

Valor: Seu partido está rachado. Uma ala apóia aliança com o PFL, em torno da reeleição do governador Paulo Souto. Isso excluiria sua pré-candidatura. O racha fez com que Alckmin fosse recebido na Bahia pelos dois partidos em eventos diferentes. Isso não o constrange?

Imbassahy: Entendo as circunstâncias nacionais. O apoio do PFL tem um grande significado para nosso candidato. Temos que conviver com as peculiaridades de cada Estado e evitar problemas para ele. Na Bahia, ele sabe que contará com todo o PSDB.

Valor: Como derrotar Lula na Bahia?

Imbassahy: Não é uma tarefa simples, pela identidade que Lula tem com o Nordeste e com Bahia também, especialmente na região metropolitana. As pessoas me dizem: "O Lula é nós lá". É uma liga que existe entre ele e uma população mais humilde, mais carente. Mas isso não significa que a população não perceba que o Alckmin também tem origem simples e todas as qualidades para manter essa identidade. É um trabalho que ele tem que fazer, circular pelo Estado. E sobretudo apresentar os projetos. Se a população não perceber projetos que possam modificar sua vida, é difícil mudar o voto. Tempo para isso tem. Nosso candidato tem todas as qualidades, os meios de comunicação, tem tudo para vencer na Bahia e vencer as eleições.

Valor: Há políticos do PFL que o consideram traidor de ACM. Como o senhor reage?

Imbassahy: Essas críticas não me diminuem. ACM é uma figura histórica, vou procurar sempre respeitá-lo, tenho gratidão por ele. O fato é que penso diferente. A Bahia tem que dar um passo à frente e desconcentrar o poder. Não pode ficar na perspectiva de se eternizar no poder. Isso não é bom para ninguém. Sinto que isso é um sentimento majoritário no grupo em que eu estava. Talvez não tivessem circunstância para fazer o movimento político que eu fiz.

Valor: O senhor vai até o fim na disputa pelo Senado?

Imbassahy: Irei até o fim. Pensar diferente não é crime. Achar que pensar diferente é ingratidão é um pouco de intolerância. (RU)