Título: Ex-aliado é maior oponente de ACM na Bahia
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Especial, p. A12

Prefeito de Salvador por dois mandatos consecutivos (de 1996 a 2004), ex-pefelista e ex-integrante do grupo que segue a orientação política do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o tucano Antonio Imbassahy, pré-candidato ao Senado, é o principal oponente do ex-cacique baiano nessas eleições.

A desavença causou constrangimentos na visita do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, à Bahia, no fim de semana, e tem apimentado o cenário político no Estado, sexta maior economia do país e quarto maior colégio eleitoral - atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Imbassahy ainda é identificado pelo eleitor com o "carlismo", mas qualquer dúvida quanto ao rompimento desapareceu com editorial do jornal "Correio da Bahia", da família Magalhães, do dia 8. "Ele (Imbassahy) e toda Bahia sabem que, à exceção do nascimento, tudo o mais que obteve na vida deve ao senador Antonio Carlos Magalhães", diz o editorial, que acusa o ex-prefeito de "desvio de caráter", "ingratidão", "bajulação" e até de comprar presentes com dinheiro de origem duvidosa.

"Por fim, sabe o ex-prefeito que será derrotado nas próximas eleições. Disto ninguém tem dúvida, nem ele próprio. E chega. Sua estatura política e moral não merece que se perca tanto tempo e espaço", termina o editorial. A veiculação ocorreu um dia depois de o concorrente "A Tarde" publicar entrevista de Imbassahy.

O tucano relata pelo menos uma divergência que teria ocorrido quando era prefeito. Diz ter se oposto a uma "orientação" para que a Polícia Militar reprimisse estudantes em manifestação nas ruas de Salvador. Atribui o rompimento a diferenças em relação ao programa de desenvolvimento econômico-social da Bahia e defende renovação do modelo político-administrativo, "excessivamente concentrador".

Em geral implacável com os que abandonam seu grupo, ACM exigiu do PSDB nacional, como contrapartida ao apoio a Alckmin, o afastamento de Imbassahy da eleição. Diante da resistência do presidente do PSDB local, deputado Jutahy Júnior, passou a exigir neutralidade na eleição para o Senado.

Com o PSDB rachado na Bahia e ainda sem aliados para formar uma chapa majoritária, o ex-prefeito enfrenta grandes dificuldades, mas tem liderado as pesquisas de intenção de voto no Estado (mais de 30%). Na capital, tem a preferência de cerca de 60% do eleitorado. Para a única vaga de senador aberta neste ano, ACM está empenhado em reconduzir Rodolpho Tourinho, ex-suplente que passou a titular quando Paulo Souto assumiu o governo do Estado, em 2002. Ex-ministro de Minas e Energia (governo FHC), Tourinho tem perfil técnico e nunca disputou eleição. Nas pesquisas, recebe menos de 10% das intenções de voto.

Na visita de Alckmin à Bahia, Tourinho foi integrado à comitiva. Já Imbassahy só esteve com o pré-candidato do seu partido em visita à sede. E não recebeu manifestação de apoio. Os problemas do ex-prefeito começaram com a escolha de Alckmin pelo PSDB pré-candidato a presidente, em vez do ex-prefeito José Serra. Essa opção do PSDB nacional desarrumou um esquema político que estava sendo costurado por Jutahy - integrante da ala tucana ligada a Serra - com o PMDB do deputado federal Geddel Vieira Lima.

A idéia era lançar uma candidatura competitiva ao governo da Bahia em 2006, para enfrentar Paulo Souto, que disputa a reeleição. Com esse projeto em mente, Imbassahy trocou o PFL pelo PSDB em setembro de 2005, depois de conversar com FHC e Serra. Com o lançamento de Alckmin, apoiado por ACM, a situação mudou. O papel do cacique baiano nas conversas entre PFL e PSDB nacionais ganhou relevância. Ele cobrou apoio do PSDB baiano à reeleição de Souto e colocou a divergência local como dificuldade à formalização da coligação nacional.

O PSDB baiano rachou. Parte dele, encabeçada pelo deputado federal João Almeida, defende aliança local com o PFL. Na visita à Bahia, Alckmin fugiu das perguntas sobre o tema.

ACM insiste na aliança local com o PSDB. "Nós queremos um palanque único para Alckmin na Bahia. E ele está aberto a todos: PFL, PSDB e qualquer outro partido que queira vir", diz. Souto defende "um ambiente saudável de conjugação de esforços". O problema é que esse palanque não tem lugar para uma pessoa: Imbassahy.

Um dos principais problemas do ex-prefeito é a falta de um parceiro de chapa. Jutahy sustenta ter feito acordo com o PDT do atual prefeito de Salvador, João Henrique, que lançaria o candidato a governador. O nome cotado era o do ex-governador João Durval, pai de João Henrique. O presidente local do PDT, deputado Severiano Alves, confirma o acordo. João Henrique e o pai negam e Durval manifesta intenção de concorrer ao Senado. O prefeito pende para uma aliança com o ex-ministro Jaques Wagner (PT), principal adversário de Souto. Sem aliança com o PDT, restará ao PSDB lançar um nome para concorrer ao governo apenas para ancorar a candidatura de Imbassahy - um "laranja".

Em mais um desfalque para o projeto de Imbassahy, Geddel agora costura uma frente das oposições, com Wagner à frente. Ele admite abrir mão de disputar o Senado se o PDT somar-se à aliança e Durval viabilizar sua candidatura. "Desta vez, tem tudo para o ACM não eleger o senador. Por isso, estou lutando para ser senador da Bahia. Mas não sou um aventureiro da política. Estou tentando costurar uma aliança das oposições e apóio o nome mais viável", diz Geddel.

O favoritismo de Lula é o grande trunfo de Wagner, que foi derrotado por Souto em 2002, mas cresceu de 2% para 38% na campanha. Por enquanto, Souto lidera com folga as pesquisas, mas Alckmin pode ser um peso. Desconhecido na Bahia, o tucano visitou o Estado no fim de semana, e teve ACM, Souto, Tourinho e o deputado ACM Neto como cicerones em tempo integral - exceto na visita ao PSDB, único compromisso de Alckmin com seu partido.

A viagem quase foi cancelada. O PFL não aceitou o evento preparado pelo PSDB para receber Alckmin em um hotel da cidade, que seria caracterizado como ato de apoio à candidatura de Imbassahy. Pressionado, Jutahy transferiu o encontro para a sede do partido. Evitando confronto, o deputado diz que a prioridade é eleger Alckmin e não dará "pretexto" para o PFL deixar de apoiá-lo. O palanque de ACM é estratégico: ele controla a grande maioria das prefeituras e mais de 20 deputados federais. Já o PSDB tem cerca de 20 prefeitos e a bancada federal limita-se a Jutahy e João Almeida.

Constrangimentos à parte, o apoio de Alckmin não é importante para alavancar qualquer candidatura na Bahia. Lula é historicamente bem votado no Estado. E Alckmin tem recebido menos de 10% das intenções de votos nas pesquisas divulgadas. Segundo mostram as pesquisas, a tendência atual do eleitorado é votar em Lula para presidente, Souto para governador e Imbassahy para senador.

A incógnita é Durval. Quando é incluído nas pesquisas para a disputa ao Senado, fica bem colocado. Mas tem um histórico de derrotas eleitorais, mesmo começando bem a campanha. Em 2002, ficou em terceiro lugar na disputa pelo governo.