Título: Real forte prejudica exportações, diz CNI
Autor: Alex Ribeiro e Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Finanças, p. C1
Queda no ritmo das exportações, perda de rentabilidade, diminuição do volume exportado. É este o diagnóstico que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) faz, neste momento, das vendas externas brasileiras. O motivo de tanta notícia ruim, segundo a entidade, é um só: a valorização do real, "forte e persistente", frente ao dólar. Em estudo divulgado ontem, a CNI sustenta que, nos últimos três anos, o real valorizou-se 37,1% em relação à moeda americana e que, no mesmo período, a rentabilidade das exportações recuou 29%. A queda só não foi maior, diz a entidade, porque os preços médios de bens exportados pelo Brasil expandiram 32,7% entre 2003 e 2005. No primeiro trimestre de 2006, a queda da rentabilidade persistiu, com perda de 6,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
O ritmo de expansão anual das exportações, que em 2004 chegou a 32%, também está diminuindo. Em 2005, avançou 22,6% e, no primeiro quadrimestre deste ano, cresceu 16,5%. No caso dos produtos manufaturados, as vendas externas expandiram, no período analisado, 14,7%, frente a um crescimento anual médio de 23% em 2005. O volume de produtos manufaturados exportados também está caindo. Segundo a CNI, cresceu 6,7% no primeiro trimestre do ano, enquanto, no mesmo período do ano passado, havia avançado 22,9%.
"Essa perda de dinamismo nas vendas externas de produtos manufaturados guarda estreita relação com o processo de valorização do real", diz o relatório elaborado pela Unidade de Política Econômica da CNI. "Esse menor ritmo de crescimento das exportações contrasta com a intensificação da demanda internacional. O PIB mundial cresceu, na média dos cinco primeiros anos desta década, a uma taxa de 3,8% ao ano. Em 2006, o FMI estima crescimento ainda maior: deve atingir 5%."
O estudo argumenta que a alta mundial dos preços das commodities está sustentando as exportações brasileiras. Itens com peso na pauta de exportações, como minério de ferro, produtos metalúrgicos, álcool, açúcar, café e derivados de petróleo, se beneficiaram com elevações de preços, em 2005, superiores a 25%. A tendência é que isso continue ocorrendo em 2006.
Os técnicos da CNI alegam que, para a geração de receitas de exportação, os preços vêm contribuindo mais que as quantidades exportadas desde o segundo semestre de 2005. No primeiro trimestre deste ano, cresceram 12,1%, se comparados ao desempenho do mesmo período do ano anterior. Já a taxa de crescimento do volume exportado está caindo - 19,2% em 2004, 13,3% em 2005 e 7,3% nos primeiros três meses do ano.
O que é uma boa notícia para os trabalhadores - o aumento da renda em dólar -, a CNI vê como outra desvantagem. Segundo o estudo, o rendimento médio do pessoal ocupado nas regiões metropolitanas chegou a US$ 427 em março de 2006, um incremento de 33,4% em relação ao mesmo mês de 2005. Na indústria, a folha de pagamento de salários em dólar cresceu 70,3% entre 2003 e 2005.
Diante disso, de acordo com a CNI, os setores onde a participação dos salários no Valor da Transformação Industrial (VTI) é maior estão perdendo competitividade internacional. É o caso de vestuário, em que os gastos com pessoal representam 61,5% do VTI, o dobro da média industrial. Outros setores prejudicados são os de fabricação de máquinas e aparelhos elétricos, extração de petróleo, calçados e móveis.
O documento da CNI informa também que tem havido forte redução no número de empresas exportadoras com faturamento anual de até US$ 100 mil (cerca de R$ 210 mil). Tendência oposta tem ocorrido em relação às companhias que exportam mais de US$ 100 milhões, o que indicaria, segundo o estudo, tendência de concentração das exportações num menor número de firmas. Novamente, o estudo diz que a culpa é da valorização do real.
Por fim, o estudo conclui que, dos setores da economia brasileira que mais exportam, os que mais têm perdido dinamismo são os de alimentos, bebidas e metalurgia básica. Nos dois primeiros casos, a taxa de crescimento das vendas, no primeiro trimestre, caiu para 7,2%, um terço da média anual da década. Nos segundo caso, o ritmo caiu para 7,9%, metade do ocorrido desde 2000. Também estão perdendo fôlego os exportadores de madeira, aviões, lanchas, motocicletas, bicicletas, produtos químicos e bens de capital (máquinas e equipamentos).