Título: Empresas elogiam proposta para o câmbio, mas dólar depende do juro
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 19/05/2006, Finanças, p. C2
Os empresários comemoraram a intenção do governo federal de eliminar a obrigatoriedade de converter os dólares obtidos nas exportações em reais, pois a medida reduzirá o custo das companhias exportadoras. O setor produtivo avalia, porém, que não existe uma "solução mágica" para a atual valorização excessiva do câmbio, que só será resolvida após a redução da taxa de juros.
Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), considera a medida "ótima". Ele calcula que as empresas que são simultaneamente exportadoras e importadoras gastam "inutilmente" 4% de sua receita por não poderem fechar suas contas no exterior.
Essa mudança na legislação cambial é uma demanda antiga da Fiesp. Em conjunto com a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a entidade elaborou um projeto de lei de atualização da legislação cambial brasileira, que está em tramitação no Congresso.
Para Gianetti da Fonseca, ao obrigar os exportadores a trazer os dólares para o país, o governo cria uma concentração de entrada de divisas, pressionando o câmbio. O fim dessa imposição pode gerar uma incerteza de oferta de dólares no mercado, contribuindo para a alta do real. Mas não é a solução do problema. "Não existe uma medida mágica que vai levar o câmbio para o equilíbrio, a não ser baixar as taxas de juros", diz o empresário.
Paulo Francini, diretor do departamento de economia da Fiesp, afirma essa proposta não foi elaborada para resolver a sobrevalorização do real. Ele explica que, enquanto permanecerem as altas taxas de juros, os exportadores vão continuar transformando seu dinheiro em reais para aplicar no mercado financeiro e elevar seus rendimentos.
"Estamos convencidos de que o câmbio anda amarrado na taxa de juros", diz Francini. Esse é o recado que empresários darão hoje, em São Paulo, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que visita pela primeira vez a Fiesp desde que assumiu o cargo. O ministro almoça com o presidente da entidade, Paulo Skaf, e mais 34 empresários. Entre os presentes, estarão Benjamin Steinbruch, Ivo Rosset, Ivoncy Ioschpe, Jacks Rabinovich, José Luis Cutrale e Josué Gomes da Silva.
Nos últimos dias, os empresários orquestraram uma série de reclamações por mudanças na política cambial. Representantes dos setores agrícola, automotivo, calçados e móveis bateram na porta dos ministros em Brasília. Entre as medidas solicitadas, estavam novas linhas de crédito do BNDES para os exportadores, solução para os créditos de ICMS não compensados, mais investimento em infraestrutura, proteção contra a concorrência da China, além de do fim do prazo para a venda de dólar.
Rubens Barbosa, presidente do conselho de comércio exterior da Fiesp, destaca que a economia brasileira ainda é muito vulnerável, apesar da melhora dos indicadores. "Um espirro nos Estados Unidos afeta imediatamente aqui", afirma, referindo-se ao movimento de valorização do real nessa última semana por conta das expectativas do mercado de alta nos juros americanos.