Título: PSDB rejeita ação federal em São Paulo
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2006, Especial, p. A8

A rejeição a uma intervenção do Exército na crise da segurança pública de São Paulo é um consenso entre os aliados diretos do ex-governador e pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. Na avaliação de integrantes do PSDB paulista, esta ação superdimensionaria a crise provocada pela mega-rebelião do PCC, seria inócua do ponto de vista técnico, prejudicial para a imagem do candidato e capitalizável politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Evita-se contudo, criticar o interesse político da iniciativa federal de oferecer ajuda, mesmo porque o PT e o governo federal baixaram o tom em relação ao PSDB paulista. "Eles não tomaram a iniciativa de politizar a crise, porque só um idiota diria neste momento que o Alckmin é o principal responsável por esta crise", disse o vereador paulistano José Aníbal, que ingressou ontem na coordenação política do candidato.

Os tucanos admitem, contudo, que o episódio vai atingir a imagem de Alckmin como bom gestor, ao menos temporariamente. "Em um primeiro momento, haverá riscos à imagem do Alckmin, mas em pouco tempo a opinião pública reflui desta posição, ao perceber que a polícia atua apenas no resultado das ações que ocorrem por falta de ação do governo federal", disse o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP).

A ação do PCC surpreendeu o partido, que avalia com cuidado a ação prévia desenvolvida pelos secretários de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, e da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. "Houve uma falha de informação, que é um item fundamental. Nunca houve um ataque ao corpo de bombeiros, como aconteceu agora", afirmou o ex-secretário da Administração Penitenciária de São Paulo João Benedito de Azevedo Marques, filiado ao PSDB, que também foi secretário nacional de Justiça no governo Fernando Henrique. Azevedo Marques foi o antecessor de Furukawa, a quem evita criticar.

"Enquanto fui secretário, não houve ações do PCC, mas não por uma questão de maior eficiência da administração. Caso tivesse permanecido no comando da secretaria, as ações poderiam ter ocorrido do mesmo modo", disse. O ex-secretário critica com dureza o eventual uso do Exército.

"O Exército não foi feito para atuar contra o narcotráfico e o contrabando, que alimentam o crime organizado e são uma incumbência da Polícia Federal, cujo desempenho nestas áreas deixa a desejar. Com mais de cem mil homens da Polícia Civil e da Polícia Militar, para que Exército?", indaga. "Fala-se em acionar o Exército sem especificar o que ele poderia fazer para resolver o problema. As tropas federais não ajudariam em nada", concorda Goldman.

Alckmin permaneceu ontem em seu escritório político em São Paulo, onde se encontrou com Aníbal e com o ex-secretário de Segurança Pública do governo Lula, Luiz Eduardo Soares, demitido depois de nove meses de administração, em 2003, segundo informou a página eletrônica do PSDB. Soares foi candidato a vice-governador do Rio pelo PT em 2002.

O pré-candidato pretende insistir na segurança como um de seus principais temas de campanha, com apoio do partido. "Em 2002, a segurança pública não foi um tema importante na campanha presidencial, mas agora ocupará um lugar central, até porque o governo Lula não tomou a questão para si e deixou de atuar no setor", disse Goldman. O pré-candidato já adiantou, neste fim de semana, que pretende propor mudanças na lei de execução penal e no Código Penal, limitando a comunicabilidade dos presos e benefícios como o regime semi-aberto.