Título: "Não há mesquinho que trate essa questão como eleitoral", diz Lula
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2006, Especial, p. A6
A onda de violência em São Paulo levou ontem o governo a convocar uma reunião de emergência da coordenação política. Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou para o governador de São Paulo, Claudio Lembo (PFL), reiterando o apoio do governo federal e confirmando que estão à disposição do administrador estadual a Força Nacional, composta por 4 mil homens, o Exército Nacional e a inteligência da Polícia Federal - que já está trabalhando no caso desde o fim de semana. Lula também enviou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no fim da tarde, para conversar pessoalmente com Lembo no Palácio dos Bandeirantes.
No meio da tarde, depois de participar da 1 Conferência Nacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, Lula classificou como uma "provocação, uma demonstração de força do crime organizado", a onda de ataques promovidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Em seu telefonema para o governador paulista, Lula afirmou que a União está disposta a ajudar neste momento. "Nós estamos dispostos a conceder, a colocar o Exército, nossa polícia especial. Mas essas coisas não adianta a gente oferecer sem saber qual é a realidade das necessidades deles", declarou o presidente.
Lula declarou que aguardaria o retorno do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos de São Paulo para saber quais medidas concretas o governo federal vai tomar no caso.
O presidente descartou qualquer debate político eleitoral envolvendo a crise de segurança em São Paulo. "Eu não acho que haja um mesquinho nesse país que tente tratar uma questão dessas como uma questão eleitoral. Até porque temos soldados defendendo a sociedade brasileira sendo assassinados", completou Lula. Para o presidente, nessa hora, é preciso "fechar os olhos para a baixeza e pensar na solidariedade de toda a sociedade brasileira".
Para Lula, em instantes de crise como esses, não adianta achar que alguém tenha mágica para resolver o problema. "O crime organizado não é uma coisa simples de combater, ele tem braços espalhados pelo mundo inteiro e nós precisamos utilizar muito a inteligência. O compromisso - do governo federal, dos governos estaduais e de todos os que possam ajudar - é não apenas de resolver o problema de São Paulo como não permitir que outras coisas aconteçam", reiterou o presidente.
O ministro lembrou que a intervenção de tropas federais foi fundamental, nos últimos três anos, para resolver crises estaduais em pelo menos três episódios: no carnaval do Rio, em 2003, em Minas Gerais, durante a greve da Polícia Militar e no Espírito Santo. "Confiamos que as forças de segurança de São Paulo sejam capazes de controlar essa situação. Mas não queremos deixar de reiterar essa oferta, se isto se mostrar indispensável para debelar a crise", reforçou Márcio Thomaz Bastos.
O ministro lembrou que a própria Constituição prevê que a responsabilidade pelas políticas de segurança pública é dos governos estaduais. Mas acrescentou que a Força Nacional - que está à disposição do governo de São Paulo - é composta por policiais militares de diversos Estados. Thomaz Bastos acredita que a crise de segurança só se resolve a longo prazo com a implantação de várias medidas, como a geração de empregos, os investimentos em educação e o próprio desenvolvimento do país.