Título: União Européia já aceita ampliar para 47% corte nas tarifas agrícolas
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2006, Brasil, p. A2

A União Européia (UE) sinalizou ao Brasil que aceita ampliar para 47% o corte médio nas tarifas agrícolas, dependendo das concessões que obtiver em troca em serviços e produtos industriais na Organização Mundial do Comércio (OMC). A oferta dos europeus que está na mesa de negociações é de redução média de 39%, mas o comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, indicou ao ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante encontro em Viena (Áustria), que o atual mandato que recebeu dos 25 países membros da UE lhe permite o aumento.

Amorim retrucou, porém, que a cifra de 47% continua sendo insuficiente para levar a um acordo agrícola. Inclusive porque não se aplicará inteiramente sobre produtos de maior interesse do Brasil, como carnes, que a UE quer designar como sensíveis (terão maior proteção).

O ministro insistiu que a base é a proposta do G-20, o grupo liderado pelo Brasil, que poderia permitir um consenso na OMC. O G-20 quer redução média de 54% nas tarifas agrícolas, acima do oferecido pelos europeus, mas abaixo dos 75% exigidos pelos Estados Unidos. A alíquota máxima que os países industrializados poderiam impor ficaria em 100%, comparado a taxas de 300% a 600% impostos na entrada de alguns produtos na UE, Estados Unidos, Japão e Noruega, por exemplo. "Nossa discussão avançou um pouquinho, permitiu maior compreensão, mas não há ainda convergência sobre números (de cortes)", disse Mandelson a jornalistas no sábado, após a reunião bilateral.

Por sua vez, Amorim acha que "um acordo está próximo", embora continue faltando o "clique" para concretizá-lo até fim de julho. Durante discurso na Cúpula UE-América Latina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou que o Brasil está pronto a fazer concessões nas áreas industrial e de serviços, desde que os industrializados abram mais seus mercados aos produtos agrícolas.

Amorim aconselhou Mandelson a não se focalizar demais no coeficiente de fórmula para reduzir tarifa industrial (quanto maior o coeficiente, menor o corte), e olhar mais sobre as flexibilidades. Ou seja, o Brasil pode aceitar reduzir o número de setores industriais sensíveis que continuariam tendo altas tarifas de importação. Isso abre mais espaço para a entrada de produtos europeus.

A barganha vai prosseguir. Mas o próprio Mandelson começou a alertar em Viena que também tem dúvidas sobre a possibilidade de fechar o acordo até fim de julho. Na OMC, o diretor-geral, Pascal Lamy, insiste mesmo que um entendimento deveria ser alcançado antes da Copa do Mundo de Futebol, que começa dia 9 de junho.