Título: Brasil, China e Índia admitem ampliar recursos para FMI ajudar zona do euro
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 14/10/2011, Finanças, p. C2

Os três maiores emergentes - Brasil, China e Índia - admitiram ontem no G-20 examinar maneiras de fornecer mais recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI), a fim de evitar que a crise da Grécia contagie mais países como Espanha e Itália.

O Valor apurou que a opção que começa a prevalecer é de acordo bilateral de financiamento, pelo qual o Brasil e outros emergentes fazem promessa de recursos para o FMI, de forma temporária. Quando o fundo precisar do dinheiro para ajudar Portugal ou Grécia, por exemplo, o Brasil libera então sua parte de recursos.

Esse mecanismo de linha de crédito bilateral é considerado mais rápido e mais fácil de ajudar no curto prazo, se necessário, sem alterar a reforma de cotas de 2010 e sem prejuízo de outra reforma que dê mais tarde poder decisório adicional para esses países no FMI.

O Brasil, China e Índia basicamente mantêm a coerência com o que tinham anunciado em Washington sobre participar de ajuda via FMI, se necessário. Confidencialmente, a presidência francesa do G-20 colocou opções na mesa de negociações há duas semanas. E ontem houve a primeira discussão mais aprofundada sobre o tema.

O presidente da Comissão Europeia, José Durão Barroso, considerou necessário esta semana que a cúpula do G-20 decida sobre mais dinheiro para o FMI socorrer países em dificuldades. E foi nesse cenário que os europeus apresentaram outras opções, só que mais complicadas. Uma delas era de alterar o compromisso feito no acordo de ampliação das cotas em 2010. Assim, recursos fornecidos pelos paises ao NAB, um programa adicional de empréstimos do FMI, hoje totalizando mais de US$ 500 bilhões, não poderiam ser transferidos para pagar o aumento das cotas. Ou seja, os países teriam que colocar dinheiro novo para as cotas.

Porém, os EUA não aceitam de jeito nenhum essa opção. A expectativa é de que agora a linha de crédito bilateral pelo FMI possa atrair os americanos, que até agora têm achado que os europeus devem resolver seus problemas com seus próprios recursos.

Também são consideradas complicadas e tecnicamente difíceis propostas como um "IMF-run special purpose vehicle", que significa emprestar ao FMI comprando bônus especiais.

Segundo negociadores, não foi discutido ainda nenhum montante para a linha de financiamento. A África do Sul e a Rússia, membros do Brics, não se manifestaram ontem. Indagado por que ainda falavam em "examinar" ao invés de logo aceitar, um negociador de emergente disse que já se trata de um avanço, porque vários outros países não querem fornecer mais recursos para o FMI, mesmo em base temporária.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em entrevista que os emergentes não tinham papel a jogar para salvar bancos europeus. Já a interpretação de fontes europeias é de que o mecanismo que está sendo discutido poderia também ser usado para recapitalização dos bancos.

Em todo caso, o movimento mostra que os grandes emergentes, com enormes reservas, tendem a ampliar sua influência no FMI. Negociadores insistiram que não há acordo, ainda, e as opções estão abertas. Mas a França impulsiona firme por um anuncio em Cannes, no começo de novembro.