Título: PCC desfere maior ataque da história policial de SP
Autor: César Felício, Raymundo Costa e Thiago Vitale Jaym
Fonte: Valor Econômico, 15/05/2006, Poítica, p. A8

O ex-governador de São Paulo e pré-candidato a presidente pelo PSDB, Geraldo Alckmin, procurou ontem acenar com um pacote de medidas para a segurança pública que adotará caso seja eleito em outubro como resposta à maior crise de segurança pública da história do Estado, neste final de semana. Alckmin saiu do governo há quinze dias.

Até as 22 horas, o governo paulista reconhecia na noite de ontem o estado de rebelião em 46 dos 116 estabelecimentos prisionais em São Paulo, entre cadeias públicas, centros de detenção provisória e penitenciárias. Já haviam sido debeladas rebeliões em outros 25 estabelecimentos, o que significa que aconteceram incidentes em 71 unidades , ou 61% do sistema prisional.

Na mega-rebelião promovida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em 18 de fevereiro de 2001, houve tumultos em 29 unidades. Em todo ano de 2005, aconteceram apenas doze rebeliões no Estado. O mega-ataque à administração pública promovido no final de semana pelo PCC se desdobrou em dois níveis: além dos presídios rebelados, foram desencadeadas 115 ações de caráter terrorista contra delegacias, fóruns e quartéis do corpo de bombeiros. Até o início da tarde, eram registradas 58 mortes, sendo 38 policiais e civis e 20 possíveis criminosos.

A manifestação foi além do sistema prisional paulista: no Paraná, quatro penitenciárias registraram rebeliões. No Mato Grosso do Sul, houve motim em outras quatro penitenciárias. A unidade da Febem de Vila Maria também se rebelou, no mais forte indício para uma suspeita antiga: a de que teria se estabelecido um braço do PCC dentro dos estabelecimentos correcionais para menores. Onze ônibus foram incendiados no Estado.

O governador Claudio Lembo (PFL) dispensou ontem a ajuda da Polícia Federal, oferecida pelo ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, com mensagens tranquilizadoras. " Nós estamos com controle total da situação " , afirmou ontem. Mas a insatisfação na força policial, em razão dos baixos salários, poderá levar a uma escalada da crise, com manifestações e greves das polícias Civil e Militar.

A mega-rebelião do final de semana começou pelo vazamento para os presos da informação da transferência de 765 detentos vinculados ao PCC, entre eles o líder da entidade, Marcos William Herbas Camacho, o " Marcola " , para o presídio de Presidente Venceslau.

A proximidade com o período eleitoral provocou reação imediata de tucanos e petistas. A queda acentuada dos índices de violência urbana em São Paulo era um trunfo que Alckmin tinha para a eleição. Mas a crise no sistema prisional inverte o sinal do que representa o tema da segurança pública para o candidato.

No sábado, primeiro dia da rebelião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou do assunto em Viena, procurando estabelecer uma conexão entre o combate à violência urbana e o aumento de investimentos na área social. Lula quer usar como bandeira de sua campanha o " choque de inclusão social " , contrapondo-se ao " choque de gestão " proposto por Alckmin. Lula colocou à disposição dos governos de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul a força nacional de segurança pública.

O ex-governador reagiu no domingo, em entrevista ao programa " Fantástico " , da TV Globo. Disse que a onda de crimes o incentivava a elevar o tema como prioridade e e falou como se já fosse o presidente. " Se Deus quiser, se tudo der certo, em janeiro haverá o descontingenciamento total e automático das verbas federais de segurança para os Estados " , disse o tucano, segundo sua assessoria de imprensa.

A estratégia tucana é transferir as responsabilidades para o governo federal. " Onde estão os resultados federais no combate ao narcotráfico, ao contrabando de armas? e os presídios de segurança máxima? " , indagou o coordenador de programa de governo , João Carlos de Souza Meirelles.

" Se roubo não derruba o Lula, acho que essa questão também não terá influencia nas eleições " , disse o líder do PSDB no Senado, Artur Virgilio. Para o tucano, é preciso separar o episódio desse final de semana com a campanha. " São Paulo tem trabalho reconhecido em segurança pública. Foi lá que encontraram o melhor pouso para o Fernandinho Beira-Mar " , analisa.

Apesar do tom confiante dos tucanos, os ataques abateram a comitiva do ex-governador Geraldo Alckmin, que estava em Feira de Santana (BA) quando a rebelião começou, pelo potencial de estrago. Mas, de modo geral, mesmo os petistas de São Paulo evitaram relacionar o ocorrido com as eleições. " Não é uma boa atitude nem da minha natureza " , disse o pré-candidato do PT ao governo paulista, senador Aloizio Mercadante.

(César Felício, Raymundo Costa e Thiago Vitale Jayme | Valor Econômico. Colaboraram Raquel Ulhoa e Assis Moreira)