Título: Brasil, Índia e África do Sul pedem fim da violência na Síria
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2011, Brasil, p. A4

O agravamento da crise política na Síria, com a morte estimada de 3 mil pessoas, levou os chefes de Estado do grupo Ibas, composto por Índia, Brasil e África do Sul, a incluir uma alteração no texto original da declaração de encerramento do encontro dos três mandatários, ontem, na capital sul-africana. Os três países, por insistência do Brasil, decidiram estudar o envio de uma missão de observadores para negociar com o governo do ditador sírio Bashar al-Assad.

O Brasil chegou a propor o envio imediato da missão, mas, por resistências da delegação indiana, que tem repetido o argumento do governo Assad de que integrantes armados da oposição tem provocado a violência, na declaração consta apenas que os chefes de Estado estudam o assunto.

Tanto a presidente Dilma Rousseff, quanto o primeiro-ministro indiano Manmohan. Singh e o presidente sul-africano Jacob Zuma, fizeram questão de lembrar, como exemplo da importância do grupo, a ação conjunta do Ibas no envio de uma missão de diplomatas a Damasco, para cobrar de Assad o fim das violações dos direitos humanos e ações para assegurar a transição para a democracia. Todos repetiram que os países do Ibas ocupam assentos rotativos no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em que se abstiveram de aprovar uma resolução contra o governo de Assad, por temer a repetição do caso líbio. Na declaração final do encontro do Ibas, os três chefes de Estado condenaram a "persistência da violência" na Síria, pediram "o imediato fim da violência e respeito dos direitos humanos".

Segundo o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, os três governos esperam uma maior atuação da Liga Árabe, que reúne os países da região e tem discutido o caso sírio, ainda sem consenso sobre que ação tomar. Países do Golfo Pérsico, mais próximos ao Ocidente, chegaram a propor uma zona de exclusão aérea - como a que resultou em ataques de aviões da Organização do Tratado de Atlântico Norte (Otan) na Líbia. Outros países aceitaram, no máximo, fixar um prazo para que Assad aponte uma saída para a crise política no país.

"Defendemos o fim imediato da repressão e encorajamos diálogo nacional para lograr uma saída não violenta", insistiu a presidente Dilma Rousseff, que fez o discurso mais incisivo sobre o tema. "Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger, pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger", disse Dilma, repetindo uma distinção feita por ela ao discursar na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, onde lembrou que as ações em países em crise devem levar em conta os desdobramentos possíveis para a população. "Concordamos em que é necessário investir mais na diplomacia e menos em intervenções militares", disse a presidente, após um extenso elogio às revoltas da chamada Primavera Árabe.

Patriota, após anunciar a decisão de estudar uma missão a Síria, lamentou, quando lhe lembraram que o Ibas já enviou, sem sucesso, uma missão que tinha obtido em agosto o compromisso de Bashar Assad em iniciar a democratização do país que "nenhum esforço deu resultado até agora". (SL)