Título: Vendas caem, mas indústria contrata mais, aponta CNI
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Brasil, p. A-3

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) registrou uma pequena retração - 0,37% - nas vendas de outubro em relação a setembro na comparação com ajuste sazonal. Os demais indicadores pesquisados pela entidade mostram crescimento. As horas trabalhadas na produção subiram 0,53%, enquanto os salários líquidos reais aumentaram 0,55% e o número de pessoas empregadas cresceu 0,43%, sempre na comparação dessazonalizada. Segundo a entidade, a combinação dos indicadores mostra também que a indústria está fortalecendo os níveis de estoque na expectativa de um aumento na demanda interna em 2005. Ao mesmo tempo, a CNI começa a identificar impactos negativos do aumento da taxa básica de juros da economia nos últimos três meses. A utilização da capacidade instalada também caiu ligeiramente: 82,7% em outubro contra 83,1% em setembro (índices dessazonalizados). Este foi o segundo mês consecutivo em que a CNI detectou queda nas vendas em relação ao mês anterior, fato que não ocorria desde o primeiro semestre de 2003. "Esboça-se o início de uma fase de desaquecimento das vendas industriais, na esteira do processo de intensificação da política monetária contracionista", conclui o relatório da CNI. Para o coordenador da Unidade de Política Econômica da entidade, Flávio Castelo Branco, esse movimento demonstra um "arrefecimento" no forte ritmo de crescimento verificado nos primeiros trimestres do ano, mas não pode ser considerado uma inversão de tendência de crescimento. "Os indicadores que medem a expectativa de médio e longo prazos (como o volume de contratações) estão positivos", justificou. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Castelo Branco: "Há a aposta que a demanda interna irá puxar as vendas em 2005"

Castelo Branco identificou uma tendência de fortalecimento dos estoques na indústria, uma vez que as horas trabalhadas na produção aumentaram enquanto as vendas caíram. "Há a aposta que a demanda interna irá puxar as vendas em 2005, uma vez que o cenário externo - com desempenho menos vigoroso da economia americana e uma queda no câmbio - será menos amigável à economia brasileira do que está sendo em 2004", disse. O fato de a produção ter aumentado mas com queda na utilização da capacidade instalada demonstra ainda "que a economia não cresce em um ritmo explosivo e não há riscos de gargalos na produção", segundo Castelo Branco. O comentário do técnico foi uma resposta ao Banco Central, que justificou parte da restrição monetária imposta nos últimos meses com o argumento de que a retomada da atividade industrial poderia provocar pressão inflacionária por excesso de demanda. Na comparação de outubro com o mesmo mês do ano passado há um expressivo crescimento em todos os indicadores. No caso do pessoal empregado, com variação de 6,32%, e de salários líquidos reais (10,87%), os níveis de aumento foram recordes para toda a série histórica, iniciada em 1992. Na mesma comparação, as vendas reais e as horas trabalhadas na produção cresceram, respectivamente, 5,95% e 4,51%. Já a capacidade instalada que é utilizada efetivamente subiu de 80% para 82,7% (dados dessazonalizados). Em relação aos salários líquidos pagos no setor industrial, o relatório ressalta que há uma trajetória "consolidada" de recuperação da renda, que se estende desde abril do ano passado. "Em todo esse período, a renda real proveniente dos salários industriais expandiu-se 14,5%. Não há registro no passado recente de outro período tão intenso e duradouro de crescimento da massa de salários", diz o documento.