Título: Combustível e telefone elevam inflação do IPCA para 0,69% no mês
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Brasil, p. A-3

A inflação medida pelo IPCA de novembro ficou em 0,69%, dentro das projeções do mercado, que iam de 0,68% a 0,70%, mas bem acima dos 0,44% registrados em outubro, segundo dado divulgado ontem pelo IBGE. No ano, o índice acumula 6,68%, distanciando-se mais do centro da meta de inflação, de 5,5%. Mas, como avaliam economistas e o próprio IBGE, este ano, o IPCA poderá ficar dentro da meta fixada pelo Banco Central, um pouco abaixo do teto de 8%, na casa dos 7,40%, conforme projeção de consultorias e bancos. Em novembro, os preços administrados pressionaram a inflação por conta da alta dos combustíveis. Segundo o IBGE, as maiores contribuições individuais para o índice foram da gasolina, com 0,11 ponto percentual, e do álcool, com 0,10 ponto percentual. Juntos, responderam por 0,21 ponto percentual no IPCA de novembro. O telefone fixo também colaborou para a alta. Segundo Eulina Nunes dos Santos, gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, as contas de telefone, em média 2,66% mais caras no mês passado, já respondem pela maior contribuição do ano ao IPCA, da ordem de 0,49 ponto percentual. No ano, acumulam uma alta de 14,29%.

Ainda no quesito preços administrados, Eulina chamou a atenção para o que denominou de "efeito pós-eleições": os reajustes das tarifas de ônibus ocorridas depois do pleito, acumulando 0,59% de alta no IPCA. Houve aumento de ônibus em Belo Horizonte (14%), Recife (15%) e Fortaleza (7%), todas capitais onde o PT saiu vitorioso na eleição. No mês passado, os alimentos continuaram atenuando a inflação. Ficaram praticamente estáveis, depois de terem tido uma deflação de 0,23% em outubro. A maioria continua em queda, ajudada pela apreciação cambial, como realçou a gerente do IBGE. Os alimentos atrelados ao dólar, como as commodities, tiveram as maiores quedas. O óleo de soja, por exemplo, caiu 8,46%. Mas, a colaboração da valorização cambial para o IPCA foi anulada pelos produtos não alimentícios por causa da alta do aço no mercado interno. O repasse aconteceu lentamente, mas foi significativo em produtos como eletrodomésticos, que subiram no ano 9,24%. Os carros usados subiram 12,06% e o ítem acessórios e peças para veículos, 18,39%, todos por influência do aço. Elson Teles, economista chefe da Fides Asset Management, aposta numa inflação em dezembro "com a cara parecida com a de novembro", mantida a pressão forte dos preços administrados que, segundo ele, subiram 1,42% no IPCA de novembro, contra preços livres em alta de 0,39%. O economista prevê, porém, que neste mês, os preços livres subam um pouco mais, algo em torno de 0,50%, por conta dos preços agrícolas, "que deverão parar de cair". "Já tem três meses que os produtos in natura estão em queda livre. O Banco Central alerta que elas são pontuais". O IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas, na primeira prévia de dezembro, também divulgado ontem, já mostra aumento dos agrícolas. A inflação da primeira prévia fechou em 0,62% , com o IPA (preços do atacado) subindo 0,74% sobre novembro. No período, os agrícolas subiram 1,03%, ante uma deflação de 1,37% em outubro. No IPC-M, com alta de 0,30%, a alimentação tiveram deflação de 0,27%, contra uma queda de 0,65% no mês anterior. Elson Teles destacou um outro fator que é alvo da preocupação do BC. As medidas de núcleo vêm subindo acima da inflação cheia na taxa acumulada de doze meses. O núcleo do IPCA por exclusão, por exemplo, fechou novembro em 7,90%, ante 7,24% no índice cheio. A seu ver, isto pode levar o Copom a elevar em mais 50 pontos o juro básico na semana que vem.