Título: Avanço pode ser de 8%
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Economia, p. 16

Entrevista Eduardo Velho

Luciano Pires

Único analistanumapesquisacomcerca de 50 instituições a acertar o desempenho do PIB, o economista-chefe daProsper acredita que 2011 seráumano de ajuste nas contas públicas

Única corretora entre as 50 maiores a acertar o resultado doProduto InternoBruto (PIB)dosegundo trimestre,aProsper prevê quea economia do país poderá encerrar 2010 comumsalto de até 8%, sem riscos inflacionários ou sustos de última hora.As análises indicam, no entanto, que a pressão sobre o Banco Central (BC) deverá aumentar logo nos primeiros meses de 2011.Na visão do economista-chefe EduardoVelho, o debate sobre a necessidade de aumentar ou não a taxa básica de juros (Selic)atualmente em 10,75% ao anodeve ganhar força.Os resultados acumulados ao longo do primeiro semestre também vão alimentar as disputas dentro e fora do governoemtorno de teses que, já durante a campanha, alimentam tensões.Velho acredita que, ainda que os candidatos à Presidência da República desconversem,umajuste fiscal acontecerá naturalmenteno próximo ano, especialmente porque os gastos do governo crescerammuito e não dão sinais de que vão descelerar tão cedo.No primeiro ano de governo, isso sempre acontece, diz. Efeito colateraldoPIBacimadoprevisto pela maior partedomercado estána inflação para 2011.EduardoVelho adverte que a meta central estabelecida pelo BC de 4,5% não deverá se confirmar, estacionando na faixa dos 5%, o que reforçaria ainda mais a discussão sobre se a Selic ficará nos níveis atuais.Aseguir,os principais trechos da entrevista:

PIB é traiçoeiro? Foi uma surpresa mesmo, mas a verdade é que a economia está crescendo a um ritmo razoável.

Houve o efeito dos serviços e da Copa do Mundo. Além disso, o mercado de trabalho e o crédito estão melhorando mês a mês. Isso mostra que a economia vai se expandir até acima do que o Banco Central projeta. A gente prevê mais. Se a economia crescer 1% nos próximos trimestres, o PIB pode fechar em 7,8% ou até 8% em função dos três primeiros meses, que forammuito fortes.

O que um resultado desse porte revela de bom e de ruim? A economia continua crescendo de formaequilibrada, a umritmorazoável, com inflação controlada.

Isso é bom. É o melhor dos mundos para o governo. Politicamente, isso foi ótimo para o governo.

Agora,aquestãoéqueoPIB vai abrir mais a discussão sobre se o Banco Central deveria ou não ter parado de aumentar os juros.Vai haver mais divisão no mercado entre os que acham que é preciso aumentar os juros no início de 2011ouaté junhodopróximoano.

A taxa de investimento subiu, mas ainda não é a ideal.

Sim, mas o dado é positivo, muito interessante.Ocrescimento foi puxado por uma dinâmica saudável. O grande componente foi o investimento, que empurrou as importações e recompôs o parque industrial.

E como fica a inflação em2011? As expectativas ou vão permanecer como estão ou subirão para 4,9% ou 5%, o que casa com a discussão sobre se vai haver aumento de juros logo no início do ano.

Umajuste fiscal por parte do novo governo será inevitável? Vai haver uma desaceleração natural. No primeiro ano de governo, isso sempre acontece. Os gastos cresceram tanto em 2010 que vai acontecer, não tem jeito.

Mas o cenário está muito consistente com o que o próprio governo traçou no Orçamento, por exemplo. Está tudo um pouco a favor do Banco Central a curto prazo e a favor do governo, com crescimento ainda controlado.

Mas claro que vai haver o debate de que o país não pode ficar dependente do crescimento, que há riscos, que, se uma crise internacional vier, pode atrapalhar.

O que esperar para o terceiro trimestre? Teremos crescimento do consumo das famílias, o ritmo das importações vai diminuir e o governo deverá aparecer gastando bem. Não consigo ver umcrescimento menor do que 1% no terceiro e no quarto trimestres