Título: Oposição insinua motivação política
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2006, Política, p. A7
O candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, disse ontem considerar "estranhas " a forma e a época em que são desencadeados os atentados criminosos em São Paulo. Ele defendeu investigação policial para apurar "quem está por trás de tudo isso " . Mesmo negando querer politizar a questão, o ex-governador acabou reforçando a suspeição levantada pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), de existência de motivação política por trás das ações do PCC.
"Tem muita coisa estranha por trás de tudo isso, mas não vou fazer observações de natureza política. Estranho a forma como a coisa ocorre, a maneira como os atos são desencadeados. Acho que cabe aos órgãos policiais investigar qual a origem e quem está por trás disso " , afirmou Alckmin.
O presidente do PFL, em entrevista à "Folha de S. Paulo", afirmou que o PT "pode estar manuseando, manipulando essas ações " . Ontem, em nota, o senador reafirmou sua "desconfiança " e citou fatos que o levam a suspeitar do PT: o envolvimento de petistas no esquema do mensalão, na invasão do Congresso pelo Movimento pela Libertação dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MSLT) e em denúncias de favorecimentos ilegais a perueiros ligados ao narcotráfico e ao PCC, denúncia que está sendo investigada em inquérito em Santo André (SP).
Confirmando as suspeitas da coligação PSDB-PFL, o senador José Jorge (PE), candidato a vice na chapa de Alckmin, chamou a atenção para a "coincidência " entre as ações do PCC e o crescimento do tucano nas pesquisas de intenção de voto. "Quando as pesquisas estão a favor de Alckmin, os ataques recomeçam", disse.
Alckmin rebateu a crítica de Lula ao governador Cláudio Lembo (PFL), que recusou o envio de tropas federais a São Paulo. O presidente lembrou que o Espírito Santo e o Mato Grosso do Sul contaram com a ajuda do Exército e da Força Nacional de Segurança Pública. "Ele (Lula) está comparando situações diferentes, iludindo a boa-fé das pessoas. Em um Estado menor, 200 policiais podem até ajudar um pouco, mas onde temos 130 mil policiais e a polícia mais bem treinada, armada e equipada, em que ajudariam? " , questionou.
Segundo ele, se o governo federal quisesse ajudar, deveria retirar os presos federais (de 1.500 a 1.800) que estão em penitenciárias do Estado e "liberar" a polícia paulista, que, por determinação judicial, precisa fazer a escolta dos presos federais. "O governo federal também tem que combater o tráfico de drogas e de armas. Por trás de tudo isso está o crime organizado. Nós estamos enxugando gelo nos Estados porque não tem polícia de fronteira eficaz", disse. O tucano cobrou, ainda, a liberação de recursos dos fundos de segurança e penitenciário aos Estados.
Antes de viajar a Brasília, Alckmin reuniu-se com Lembo para discutir a crise. Na primeira onda de ataques em São Paulo, o governador queixou-se da falta de solidariedade de seu antecessor. Ontem, o tucano elogiou a "firmeza" de Lembo e defendeu a polícia paulista por enfrentar o problema, endurecer o jogo e não fazer nenhum tipo de acordo. "A questão é muito séria. Ninguém se iluda que a questão vai se resolver rapidamente. Temos que ter consciência da gravidade da questão das organizações criminosas no país " .