Título: A força da construção
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Economia, p. 17

O sonho da casa própria impulsiona o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país) pelo lado da oferta. Irrigada pela fartura de dinheiro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da caderneta de poupança, além de ter o suporte do programa Minha Casa, Minha Vida, a construção civil ganhou status de força propulsora da economia e foi o setor que mais cresceu na comparação com o segundo trimestre do ano passado.

O segmento avançou nada menos que 16,4%.

Enquanto cidades inteiras são transformadas em gigantescos canteiros de obras, o financiamento facilitado tem tornado realidade o desejo de sair do aluguel. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crédito para a aquisição da residência própria avançou 34% entre o segundo trimestre de 2009 e o primeiro deste ano. A previsão é que, até dezembro, sejam aplicados R$ 87 bilhões na área habitacional.

Em 2002, esse montante não passava de R$ 6 bilhões, afirma Elson Ribeiro e Póvoa, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) do Distrito Federal.

Para o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, o Brasil já evoluiu muito na concessão de crédito para habitação, mas tem espaço para fazer mais. Está havendo um aumento no volume de crédito imobiliário. Mas, comparado ao de outros países, esse avanço é pequeno. Ainda assim, tem surtido um efeito bastante positivo no PIB, argumenta.

Mas não é só o financiamento.

O deficit habitacional no Brasil é de 7 milhões de unidades.

A demanda reprimida é grande e essa procura faz a construção bombar, justifica Póvoa.

Demanda Além dos empreendimentos imobiliários iniciados por todo o país por grandes construtoras para atender a demanda, o governo tem dado uma mãozinha para o setor ficar mais aquecido. O programa Minha Casa, Minha Vida, que tem inflado a candidatura da petista Dilma Rousseff à Presidência da República, contratou 520.943 residências até o fim de julho. A meta do governo é chegar a 1 milhão até dezembro. O programa tem movimentado muito o setor, mas há também investimentos na área de saneamento, em estradas e energia. Isso reforça muito a construção civil e acaba fazendo com que falte mão de obra qualificada, explica Póvoa.

Tamanha quantidade de obras tem obrigado o país a importar insumos e, emalguns casos, até profissionais. No embate entre o segundo trimestre de 2010 ante igual período do ano passado, a quantidade de pessoal ocupado na construção civil avançou 9,8%. Com a escassez de trabalhadores, os rendimentos das categorias do setor têm avançado fortemente. Na última data-base, elas conquistaram um reajuste de 9%. Mesmo com esse crescimento salarial forte, hoje o mercado está bom como um todo, tanto para os fornecedores quanto para a mão de obra e os empreiteiros, afirma Póvoa.