Título: Avanço com menos inflação
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Economia, p. 17

Governo afina o discurso e já fala emexpansãode pelo menos 7%, enquanto o custo de vida será de 5%

Após a divulgação do crescimento de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no trimestre passado, a equipe econômica do governo Lula voltou a afinar o discurso e garantiu: o primeiro semestre bastou para o Brasil acumular uma produção de riquezas suficiente para registrar, no fim do ano, expansão de pelo menos 7%.

Até mesmo o ministro da Fazenda, GuidoMantegao mais resistente da equipe , admitiu ontem que o resultado poderá ser ainda maior, levando o país ao maior avanço dos últimos 24 anos. O resultado deste ano será excelente, porque teremos um crescimento maior, com uma inflação menor, emtorno dos 5%, afirmou.

Mais otimista, o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, chegou a dizer que o crescimento pode chegar próximo dos 8%.A tendência é fechar o ano com alguma coisa entre 7,5% e 7,8%. A previsão que temos, pelos dados internacionais, mostra que três países vão crescer mais de 8%: China, Índia e Tailândia. Ou seja, o Brasil provavelmente vai estar na 4ª ou na 5ª posição na lista do crescimento mundialem2010, estimou.

Ao comentar os resultados, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),Mantega se furtou a destacar, como normalmente faz, um dos principais vetores do crescimento do PIBo consumo do governo, que avançou 2,1% entre o primeiro e o segundo trimestres do ano. Assegurou, no entanto, que o ritmo de avanço da economia deve cair ainda mais nos próximos trimestres, garantindo o que ele chamou de crescimento sólido. O presidente do Banco Central, HenriqueMeirelles, também afirmou que a atividade deve desacelerar nos próximos dois trimestres, o suficiente para fechar o ano dentrodaprevisão de 7,3%, divulgada no último relatório trimestral de inflação, em junho.

Para que cheguemos aos 7,3%, o crescimento médio no terceiro e quarto (trimestres) deverá ser em torno do 0,7%. Alguns analistas preveem um crescimento maior no quarto período, outros o contrário, por conta de formação de estoques que já se desenha na economia no terceiro trimestre, disse.

Medidas anticíclicas ParaMeirelles, o desempenho acumulado no semestre reflete as ações anticíclicas adotadas tanto peloMinistériodaFazenda,quanto pelo Banco Central em resposta à crise internacional. Os estímulos monetários, que evitaram uma deterioração das condições do crédito, e os fiscais, que incentivaramo consumo, culminaram no primeiro trimestre e influenciaram o forte avanço nos primeiros três meses do ano e a desaceleração no segundo trimestre.

Esses efeitos e a antecipação do fim desses incentivos, fizeram com que houvesse um aumento do consumo e da formação de estoques, considerou.

Além de comemorarem os resultados, os três ministros procuraramreforçar a ideia de que o resultado mais forte do que o esperado, para o PIB, não deve se traduziremmais inflação. A aposta é de que o Índice de Preços aoConsumidor Amplo (IPCA) fique próximo dos 5% em 2010. Se ficar um pouco acima disso não tem problema, porque vamoster muito mais crescimento do que inflação no ano. Se a inflação for de5% e o PIB crescer 7,5% ou quase 8%, significa que cresceremos bem mais que a inflação, ponderou Bernardo. Já o presidente do BC, instituição que tem a prerrogativa de manter o controle da inflação, disse que o avanço do PIB não pressiona a inflação. O Banco Central está absolutamente confortável, porque o crescimento está dentro do previsto. Apesar de crer emuma desaceleração da economia nos próximos trimestres,Mantega admitiu que espera umnovo aquecimento da demanda doméstica nos últimos três meses do ano.

indicador antecedente Ao defender a previsibilidade do resultado do PIB, Meirelles utilizou como parâmetro o índice de atividade divulgado pela instituição mensalmente o IBC-BRque registrou crescimento médio de 1,3% entre o primeiro e o segundo trimestres.

Curiosamente, o BC procurou desvincular o índice, à época de seu lançamento, como um indicador antecedente