Título: Importações cinco vezes maiores
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Economia, p. 17

A dificuldade dos exportadores brasileiros em colocar os produtos nacionais no mercado externo no período posterior à crise e a enorme demanda por produtos importados, ocasionada por um mercado consumidor sedento por todo tipo de mercadorias, reduziram o percentual de crescimento registrado entre junho do ano passado e de 2010.

Entretanto, se porumlado o país cresceu menos, por outro recebeu um alívio nas pressões inflacionárias, uma vez que os produtos importados estimularam a competição interna e evitaram o aumento de preços.

De acordocomo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país registrou avanço de 8,8% no segundo trimestre do ano, se comparado ao período de abril a junho de 2009. Pelos cálculos do economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, o chamadovazamento externo retirou do PIB acumulado no primeiro semestre o equivalente a 3,5 pontos percentuais.

A conta considera, de forma geral, o quanto de importações substituíram a produção nacional, reduzindo a geração de mais riquezas. Os dados divulgados pelo IBGE mostram que a taxa de avanço das importações (38,8%) superou em mais de cinco vezes o aumento dos embarques de mercadoriasemportos nacionais (7,3%) no segundo trimestre.

Na avaliação da economistasênior do Royal Bank of Scotland, Zeina Latif, as importações não devem ser vistas como inimigas do crescimento do PIB. Não vejo esse fator atrapalhando o PIB. Ele é reflexo da demanda doméstica aquecida em conjunto com uma poupança baixa. Não pode ser visto como uma contribuição negativa, porque é uma forma de financiarmosoconsumonãoatendido pela nossa produção, considerou.

Para ela, o mercado doméstico recorre a uma espécie de poupança externa, que equilibra as restrições de oferta no Brasil.

Estamos num contexto em que o mercado doméstico cresce forte, ante uma economia externa que não cresce tanto assim. Ainda estamoscomexportações20% menores do que tínhamos no período anterior à crise, o que é muito e justifica maiores importações, afirmou.

Sem aumento Atualmente, as compras externas são facilitadas pelo real forte, que aumenta o poder aquisitivo dos importadores no mercado externo. O efeito é benéfico na economia porque, diante da possibilidade de trazer produtos de fora do país, os empresários brasileiros evitam reajustar os preços.Comoa lógica concorrencial vale tanto para bens de consumo (itens prontos) como para bens intermediáriosinsumos usados na cadeia produtiva de mercadoriaso impacto positivo sobre a inflação é disseminado por toda a economia.

Apesar de terem sido fundamentais para o controle inflacionário no pós-crise, analistas alertam para o fim da colaboração das importações. Creio que as importações e o câmbio não irão mais contribuir para o controle da inflação. O dólar não poderia baixar mais ainda, após chegar a R$ 1,74. Daqui para a frente, não haverá mais contribuição alguma, afirmou o economistachefe do Banco Espírito Santo, Jankiel Santos.

Outro risco de confiar demais nas importações para manter os preços comportados, de acordo com o economista-chefe do bancoWestLB no Brasil, Roberto Padovani, é que elas sofrem os mesmos gargalos logísticos enfrentados pela produção nacional.

É preciso de portos, aeroportos e estradas para comportar esse crescimento e o Brasil ainda não tem estrutura para suportar esse ritmo. (GC)

R$131,2 bilhões emimpostos

governo não perdoou os brasileiros. Para bancar o aumento dos gastos que garantiram boa parte do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,2% no segundo trimestre deste ano, o setor público sugou R$ 131,2 bilhões das famílias em forma de impostos sobre produtos .

Esse volume de recursos representou um salto de 12,6% em relação ao mesmo período de 2009. O que chamou a atenção dos especialistas foi o fato de a arrecadação de tributos ter aumentado mesmo com vários bens de consumo, como carros e eletrodomésticos, terem sido vendidos com impostos reduzidos. A disposição do governo em avançar sobre o bolso dos consumidores não vai diminuir, diante das promessas de manter se o processo de gastança que está pondo em risco o ajuste fiscal