Título: Famílias gastam R$ 1,07 trilhão
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/09/2010, Economia, p. 17

Impulsionado pelo bom momento do emprego formal, da renda e do crédito, o consumo dos trabalhadores registra a 27ª alta consecutiva

Com a renda aumentando vigorosamente e a estabilidade no emprego encorajando financiamentos de longo prazo, o consumidor tornou-se vital para o crescimento econômico. Apenas nos primeiros seis meses do ano, as famílias gastaram R$ 1,07 trilhão e a perspectiva é de, no mínimo, dobrar esse montante até dezembro. O Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país) se beneficiou do forte impacto provocado por essa nova sociedade consumista. No segundo trimestre, a demanda dos lares brasileiros registrou crescimento pela 27ª vez consecutiva.

São milhões de famílias em uma busca desenfreada por geladeiras novas, televisores de LCD, internet de alta velocidade e casa própriatudo patrocinado pela oferta maciça de crédito e pela expressiva expansão da renda.

Esses são os dois elementos fundamentais no processo de consumo e de crescimento elevados, destacou o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola deNegócios.

Na avaliação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do PIB, crédito, emprego e renda têm impulsionado o consumo e, em consequência, o crescimento do país. No segundo trimestre comparado com igual período do ano passado, a massa salarial avançou 7,3%, ritmo que supera a inflação em quase duas vezes.

O crédito para pessoa física também registrou incremento significativo no período, de 17,1%.

Além dos ganhos salariais e da facilidade de financiamentos, o país está gerando empregos formais. Segundo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, serão 2,5 milhões de postos com carteira assinada até o fim do ano.

Esperança Giullia Amancio da Silva, 20 anos, é funcionária terceirizada no Governo do Distrito Federal.

Comtrês filhos e o quarto prestes a nascer, conquistou o emprego há pouco mais de três meses, o primeiro com carteira assinada.

O serviço paga apenas um salário mínimo, mas é dinheiro suficiente para inseri-la no mercado consumidor e ainda contribuir para a estatística trilionária das despesas das famílias, registrada nos dados do PIB.

Eu sou uma brasileira que está melhorando de vida. Comum emprego fixo, dá para entrar nas prestações. Já comprei geladeira, fogão e vários móveis, relatou.

Depois de ganharumacasa construída pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na periferia deBrasília, ela financiou tijolos e cimento, chamou os vizinhos para ajudar e começou a ampliar o novo lar. Fiz ummuro para deixar minha casa mais segura, explica. O emprego, somado ao crédito, tem alimentado as esperanças de Giullia, que voltou aos estudos e sonha em comprar móveis mais bonitos e em dar uma boa educação aos filhos.

A vontade de gastar é semelhante à de milhões de brasileiros que,hápoucotempo,nãotinham acesso a produtos essenciais.

Agora, podem comprar de quase tudo e estão aproveitando para adquirir também o supérfluo. O consumo das famílias tem aumentado, mas não há um perigo iminente. O endividamento ainda é baixo e havia uma demanda reprimida nas classes C, D e E, que começou a ser atendida, afirmaAlcides Leite.

Na visão de Carlos Thadeu de FreitasGomes, ex-diretordoBancoCentral e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), ainda há espaço para o consumidor comprar mais. No momento, nós temos oferta de crédito elevada e a inadimplência está baixa. Isso nos dá brecha para aumentar o consumo, argumenta Freitas. O PIB veio maior do que o mercado esperava, mas com uma desaceleração esperada, o que indica que estamos crescendo em velocidade de cruzeiro e devemos seguir de maneira sustentável nos próximos anos.