Título: Procomp cria urna para exportação
Autor: André Borges
Fonte: Valor Econômico, 14/07/2006, Empresas, p. B2

Nem as frustrações com a Copa do Mundo serviram para abalar os ânimos do presidente da Diebold Procomp, João Abud Junior, que acaba de chegar de suas férias na Alemanha.

Vencedora das licitações para fabricação das urnas desde 1998 - só perdendo para a Unisys em 2002 - a companhia corre com a produção de 22,5 mil máquinas, que serão entregues ao TSE nos próximos dias. "Desta vez o pedido é até pequeno. Já chegamos a produzir 170 mil máquinas", afirma Abud.

As demandas do TSE, de fato, podem se tornar pequenas para a Diebold Procomp, caso dê certo o que Abud está planejando. A companhia, que até hoje atuou como produtora de um equipamento especificado pelo próprio TSE, decidiu criar sua própria urna eletrônica para, segundo o executivo, ter controle da propriedade intelectual da máquina.

Com um "pequeno investimento" de US$ 300 mil e quatro meses de trabalho, a empresa desenvolveu seu próprio terminal eleitoral. Entre as diferenças em relação ao equipamento usado atualmente pelo TSE estão o tamanho da tela - praticamente o dobro do modelo atual - e a exibição colorida de dados e fotos. "As oportunidades estão surgindo. Há interesses na América Latina. Também temos contato com países da África e Europa", sinaliza o presidente da companhia.

Na prática, conforme apurou o Valor, a Diebold negocia suas urnas com o Chile, Costa Rica e Peru. Angola e Portugal também estão no roteiro. Um dos primeiros destinos das urnas poderá ser o Equador, que conta com aproximadamente 7 milhões de eleitores e realiza suas eleições também em outubro.

Com meta de exportar entre 20 mil e 30 mil urnas por ano, a Diebold Procomp deve fazer uso de sua presença em 80 países para facilitar as transações. "Cada caso é um caso. Em algumas situações atuaremos em parceria com cada subsidiária. Em outras, fecharemos acordos com integradores locais", diz o executivo.

No Brasil, a Diebold Procomp faturou cerca de R$ 1 bilhão em 2005, sendo que a participação dos contratos públicos representou cerca de 40%. Para este ano, a empresa pretende aumentar o seu bolo em cerca de 15%.

Mas tudo indica que o mercado internacional não deverá ser monopólio da americana Diebold. A brasileira Samurai, dirigida pelo engenheiro de eletrônica Carlos Rocha, promete fazer frente à companhia, o que inclui levar adiante um embate jurídico que já se arrasta há anos.

Desde as eleições de 1996, quando foi contratado pela Unisys para produzir o que viria a ser a primeira urna eletrônica do país, Rocha enfrenta uma batalha para provar que a propriedade intelectual das máquinas lhe pertence. Um pedido de patente, segundo o executivo, foi encaminhado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) ainda em junho de 1996, até hoje sem resposta. Naquele ano, diz Rocha, a Unisys chegou inclusive a pagar pelos direitos autorais da empresa, mas o mesmo não viria a ocorrer em 2002, quando a multinacional venceu novamente a licitação eleitoral. No caso da Procomp, alega Rocha, a empresa nunca pagou pelo uso de propriedade intelectual. "Já enviamos uma notificação formal a eles, cobrando pelo uso da tecnologia", comenta, acrescentando que não há previsão para solucionar o caso.

Enquanto o imbróglio não se resolve, a Samurai também sai em busca do mercado externo. E para evitar qualquer tipo de questionamento judicial, Rocha teve que ser criativo como em 1996. "O que criamos é uma máquina eletrônica de votação."