Título: Lula tenta minimizar ausência de parceiros
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2004, Brasil, p. A-5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Peru, Alejandro Toledo, assinaram ontem um acordo bilateral para financiar o projeto de construção da Rodovia Interoceânica, que ligará Inãpari, na fronteira com o Estado do Acre, aos portos peruanos de Ilo e Matarani, no Pacífico. O acordo foi fechado durante a 3 Reunião de Presidentes da América do Sul em Cuzco (Peru). Ao discursar, o presidente brasileiro ressaltou que a obra é um sinal de que a Comunidade Sul-Americana de Nações, lançada durante o encontro, não é um "mero exercício de retórica". E observou que a integração da América do Sul supera as "rivalidades e desconfianças" do passado. "Ao nos integrarmos para dentro, estamos também nos integrando com o mundo". O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista concedida também em Cuzco, que a ausência dos presidentes da Argentina, Paraguai e Uruguai na reunião não significa qualquer crise no bloco. "Eu não posso avaliar porque um presidente não veio ao encontro. Seria presunção da minha parte duvidar das explicações que os representantes dos países deram", disse, segundo informações da "Agência Brasil". "Eu só espero que quando Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores) comunicar em uma reunião que não estarei presente, que as pessoas não duvidem da minha palavra", brincou. Faltaram ao encontro os presidentes da Argentina, Nestor Kirchner; do Paraguai, Nicanor Duarte; e do Uruguai, Jorge Battle. Amorim considerou "natural" a ausência dos presidentes da Argentina, Paraguai, Uruguai na reunião e negou que o fato possa ter enfraquecido o Mercosul. "Eu preferia que eles estivessem aqui, mas os países têm seus problemas internos. A ausência deles é compreensível. Não significa que não dêem importância à integração sul-americana". A rodovia Interoceânica é um dos projetos voltados para a integração física da América do Sul, um dos pilares da Comunidade Sul-Americana de Nações, que tem entre seus objetivos integrar o Mercosul e a Comunidade Andina. A rodovia deve custar US$ 700 milhões e permitirá ao Brasil alcançar a economia da Ásia com mais facilidade pelo Oceano Pacífico. O governo brasileiro, através do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), financiará exportações brasileiras de bens e serviços até um montante de US$ 417 milhões. A Corporação Andina de Fomento e o governo peruano aportarão o financiamento complementar. "Essa integração inclusiva e solidária, que supera as rivalidades e as desconfianças do passado, é parte de um processo de amadurecimento político do continente", afirmou Lula. Dirigindo-se aos colegas presidentes, o presidente afirmou que o Brasil conhece a importância de sua participação política no processo de integração. "Estejam certos de que iremos continuar fazendo todo o esforço que estiver ao nosso alcance, todas as conversas possíveis e necessárias, todas as viagens necessárias para que a integração se concretize nos próximos anos no nosso continente", disse. O presidente peruano Alejandro Toledo, na acolhida aos presidentes, insistiu na tese de um grande bloco sul americano. "Agora, temos um novo país com 361 milhões de habitantes", disse ele. "A Comunidade Sul-Americana de Nações que nasceu hoje deverá nos ajudar a enfrentar os desafios da globalização para que ela seja mais justa, mais equânime", acrescentou. "Ela nos permitirá atuar em conjunto e unidos, na cena internacional, para fortalecer nossa capacidade de negociação e dar o salto para conquistar mercados nos EUA, Europa e Ásia", acrescentou. O encontro de cúpula em Cuzco assinala a terceira vez em que os presidentes sul-americanos reúnem-se, desde que o Brasil convidou-os para um encontro em 2000 para discutir projetos visando a interligação dos países através de uma rede de estradas, ferrovias e rios, para ampliar substancialmente o comércio na região. No papel, a Comunidade Sul-Americana de Nações impressiona. Cobrindo 17 milhões de quilômetros quadrados, com 361 milhões de habitantes, ela é, nas palavras de Toledo, "uma das maiores no planeta", com um Produto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 973 bilhões (725 bilhões de euros) e exportações superiores a US$ 180 bilhões (134 bilhões de euros). O Mercosul é um bloco de comércio composto por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e abrange a metade oriental do continente. Em um passo preliminar à criação, em outubro, da nova organização, o Mercosul assinou pactos com outros blocos de comércio regionais sul-americanos e com a Comunidade Andina para criar gradualmente uma zona de livre comércio cobrindo o continente. A Comunidade Andina é formada por Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. Críticos apontam para a ausência de resultados na Comunidade Andina como justificativa para ceticismo em relação ao êxito de uma nova organização regional, reunindo todos os países da região.