Título: Serra entra no jogo pela Prefeitura de SP
Autor: Klein,Cristian
Fonte: Valor Econômico, 25/10/2011, Política, p. A8
O efeito foi um tanto retardado. Mas a saída da senadora petista Marta Suplicy da disputa pela Prefeitura de São Paulo e a definição do partido pela candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, já causaram pelo menos uma mudança importante no tabuleiro da eleição municipal na capital paulista.
A intensa movimentação do ex-governador José Serra nos últimos dias passou a ser interpretada como uma evidência de que o tucano está no jogo.
Serra até agora nega insistentemente que será o candidato do PSDB. Mas a prática não condiz com a fala.
Começou a acompanhar, com frequência, o governador Geraldo Alckmin, com quem travou - e perdeu - uma disputa ferrenha pelo controle da sigla no Estado, após ser derrotado na eleição presidencial do ano passado.
Serra saiu da condição de problema, um incômodo interno para Alckmin, e agora surge como solução para os planos do governador.
A desistência de Marta Suplicy, com quem Serra rivalizava na preferência do eleitorado, gerou duas consequências imediatas para os cálculos tucanos.
A primeira: seduz e pressiona Serra para assumir seu nome, num cenário onde as alternativas são novatos desconhecidos da maior parte da população. Sem Marta e ainda longe do período eleitoral, as próximas pesquisas deverão indicar o ex-governador como líder isolado da disputa, com percentual três ou quatro vezes maior que o do segundo colocado.
A segunda consequência: a demonstração de unidade do PT, que abriu mão da realização de prévias, assusta os tucanos, divididos em quatro pré-candidatos que não empolgam. Se Alckmin já buscava uma aliança com o prefeito Gilberto Kassab (PSD) - deixando de lado um passado de desavença - a parceria torna-se essencial diante da previsão de fracasso.
Alckmin precisa de Serra tanto para 2012 quanto para pavimentar sua própria reeleição em 2014. O ex-governador é o nome que mais facilmente poderia viabilizar a forte aliança entre as máquinas da prefeitura e do governo do Estado.
De um lado, Kassab já disse que se Serra entrar no páreo não tem como deixar de apoiá-lo. O prefeito é grato ao tucano desde a disputa municipal de 2008, quando Serra não fez campanha para Alckmin, candidato do PSDB.
De outro, no PSDB, se Serra e Alckmin - os dois caciques - decidirem, só restará a resignação aos quatro pré-candidatos (três dos quais são secretários estaduais).
A formação de uma aliança com Kassab protege duplamente Alckmin: consolida um apoio à sua reeleição e evita que o prefeito seja um adversário em 2014.
Kassab tem como opções lançar o vice-governador Guilherme Afif Domingos ou o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Deixar o prefeito solto na largada para 2012, por outro lado, é alternativa duplamente perigosa para Alckmin.
Se o candidato tucano - na hipótese de ser um dos quatro que defendem a prévia - não chegar ao segundo turno, Alckmin ficará com imagem fragilizada. Se chegar, corre o risco de Kassab cair no colo do PT e ver os dois grupos unidos para enfrentá-lo em 2014.
Por isso, a perspectiva para Alckmin é delicada. E Serra pode servir muito bem a seus propósitos. Curiosamente, numa situação inversa à que se viu nos últimos anos, Serra talvez seja hoje mais desejado por Alckmin do que por Kassab. Depois de fundar o PSD, que pode ser tudo, menos antigovernista, não cai bem andar de mãos dadas com um símbolo da oposição.
A construção de uma aliança Kassab/Alckmin, tendo Serra como candidato, poderá, por sua vez, gerar outro efeito no tabuleiro: forçar uma coligação entre o PT e o PMDB, que tem como pré-candidato o deputado federal Gabriel Chalita.
A união entre Kassab e os tucanos desequilibraria o jogo, ainda mais se o recém-criado PSD conseguir na Justiça o tempo de propaganda eleitoral correspondente à sua bancada de 56 parlamentares na Câmara dos Deputados.
O peso de uma aliança PSD + PSDB estimula a criação do outro pólo, PT + PMDB, por mais uma razão. Com um latifúndio de tempo de TV, Serra ganha espaço para fazer algo que já seria esperado dele: federalizar a disputa, que terá no outro lado um ex-ministro da Educação petista.
Desse modo, Serra na raia aumenta o peso e a influência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como estrategista do PT.
Lula já foi responsável por tirar do caminho de Haddad seus adversários internos, como a senadora Marta Suplicy.
Caso José Serra concorra, terá nova oportunidade para completar a tarefa: voltar a sondar Chalita e o vice-presidente Michel Temer, líder nacional do PMDB, a desistirem da candidatura própria.
Desta vez, ficará mais difícil negar o pedido de Lula. Ainda mais num momento em que sua luta contra o câncer comove e os aliados evitam lhe causar aborrecimentos.