Título: PSDB expulsará deputado envolvido com corrupção
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Política, p. A5

A Executiva Nacional do PSDB decidiu ontem encaminhar à comissão de ética do partido processo de expulsão contra o deputado Paulo Feijó (RJ), por envolvimento no esquema de desvio de recursos orçamentários destinados à compra de ambulâncias - o chamado escândalo das sanguessugas. Em relação aos deputados Helenildo Ribeiro (AL) e Itamar Serpa (RJ), citados nas investigações, a executiva pedirá esclarecimentos para decidir se proporá ou não a expulsão.

A decisão foi anunciada pelo presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), em duro discurso, no qual acusou o governo Lula de "institucionalizar" a corrupção no país. Em resposta, o presidente desafiou o tucano a provar as acusações. "Faço isso com o maior prazer, se ele abrir as portas do Ministério da Saúde e suspender todos os convênios com prefeituras sob suspeita. Faremos auditoria no ministério e provaremos juntos".

A punição rigorosa segue a estratégia da cúpula da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência, de explorar eleitoralmente o escândalo. Na avaliação de seus estrategistas, o caso pode prejudicar decisivamente a candidatura de Lula à reeleição, já que a maioria dos citados nas investigações é de partidos da base governista.

Tucanos e pefelistas avaliam que o escândalo traz o tema corrupção de volta à campanha e refresca a memória para o caso do "mensalão" - ambos envolvendo o governo e parlamentares aliados.

"O Executivo institucionalizou, por meio do Legislativo, a corrupção, levando-a ao extremo, a todas as pontas e prefeituras do país inteiro. O prefeito, para obter recursos, precisa se associar a um deputado ou a uma empresa intermediária. Os deputados, por sua vez, somente têm acesso aos prefeitos se tiverem emendas e esquemas de repasses, repartindo parte desses recursos com as prefeituras locais, fazendo, assim, um sistema em cadeia que começa na ponta e chega ao Executivo, quando os deputados que conseguem as emendas são justamente aqueles que se mostram dispostos a votar para a maioria do governo e têm acesso às esquinas dos ministérios", afirmou Tasso em discurso. Ele previu alto índice de reeleição dos deputados envolvidos em corrupção.

Na reunião da executiva, o deputado Eduardo Gomes (TO) - também citado - ficou isento de qualquer punição, por falta de provas. João Almeida (BA) recebeu a solidariedade da Executiva, por seu nome ter sido citado pela Controladoria-Geral da União em uma lista dos parlamentares que mais apresentaram emendas para a compra de ambulâncias, sem indícios de irregularidade.

O processo contra Feijó tem prazo de 35 dias na comissão de ética. Se for expulso, não poderá disputar as eleições. Segundo Tasso, "não há dúvida sobre sua culpa".

Em seu discurso, o tucano disse que a eleição atual é a "mais corrupta da história do país" e acusou o Executivo de usar o Legislativo para "institucionalizar" a corrupção. E se irritou com aparte do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), segundo o qual os problemas começaram antes do governo petista.

"Não vou fazer como o partido de vossa excelência, que vai ficar lavando as mãos e dizendo que não sabia. Vou expulsar todos os gatunos que fizerem isso no meu partido", disse Tasso. A executiva do PFL reúne-se hoje para discutir a punição dos envolvidos.