Título: Convocações dividem integrantes da CPI
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Política, p. A5

O avanço das investigações na CPI dos sanguessugas acirrou os ânimos dos parlamentares, que já têm deixado transparecer suas discordâncias. Nessa semana, a maior desavença recaiu sobre a realização de um novo depoimento de Luiz Antonio Vedoin, dono da empresa Planam, tido como um dos organizadores do esquema de superfaturamento da compra de ambulâncias. O vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), e seu colega Fernando Gabeira (PV-RJ) insistem em ouvi-lo novamente. Vedoin prestou depoimento durante nove dias à Justiça Federal e os parlamentares querem tirar dúvidas.

Os dois divergem frontalmente do subrelator, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), e do presidente da comissão, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que não acreditam na utilidade de ouvir Vedoin novamente.

Na segunda-feira, o relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), anunciou que Vedoin seria ouvido ontem à tarde. Jugmann confirmou a informação. Ontem, Biscaia chegou a ironizar a pressão. "Não sei porque disseram que o Vedoin seria ouvido hoje (ontem). Quem envia a notificação sou eu e eu não enviei nada", afirmou. O depoimento será hoje, às 9h.

Outra divergência forte entre os integrantes é sobre a data para apresentação do relatório parcial sobre a participação de cada um dos 90 deputados investigados no esquema, prevista para o dia 10. O subrelator Júlio Delgado (PSB-MG) protestou contra a pressa de Sampaio e Biscaia. Pede mais atenção às explicações dos parlamentares acusados: "Eu não voto um relatório sem considerar as explicações de cada um dos deputados. E também não voto antes de ouvir o Vedoin novamente". No plenário do Senado, o senador Wellingon Salgado (PMDB-MG) criticou os acessos privilegiados às informações da CPI do "quarteto fantástico" - Biscaia, Sampaio, Gabeira e Jungmann.

A terceira diferença latente entre eles está na convocação ou não de José Serra, ex-ministro da Saúde, para depor. Humberto Costa (PT-PE) e Saraiva Felipe (PMDB-MG), os dois últimos ocupantes do cargo, fatalmente falarão à CPI. Contra Serra, dizem os integrantes da comissão, ainda não apareceu nenhum indício de participação. Mesmo assim, Delgado e alguns petistas pressionam para ele ser convocado. Ontem, o assunto chegou ao Palácio do Planalto. O ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, pressionou a CPI. "Esse esquema começou em 2000. Não existem informações que justifiquem a convocação de Humberto e Saraiva. Se houvesse responsabilidade, o ex-ministro José Serra deveria ser o primeiro a ser convocado para depor, explicar por que a indiferença durante a sua gestão", disse. Ontem, a CPI recebeu sete novos depoimentos prestados à Justiça de acusados de fazer parte do esquema.