Título: Lula cobra "mais responsabilidade" da oposição
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Política, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem, antes de participar da abertura do Congresso da Associação de Bares e Restaurantes, responsabilidade da oposição nos comentários sobre corrupção no governo, e responsabilidade do Legislativo na votação da medida provisória dos aposentados. Lula respondeu às duras críticas do presidente do PSDB, Tasso Jereissati (SP), que havia afirmado, na tribuna, que "o governo do PT institucionalizou a corrupção e que essas serão as eleições mais corruptas da história". Segundo Lula, Tasso, como presidente de um partido importante, tem que ter mais responsabilidade naquilo que fala. "Ele, mais do que ninguém, conhece o processo histórico e eleitoral deste país. Em alguns momentos, deve ter sabido de coisas que eu não sei", insinuou o presidente.

Lula se disse preocupado, porque "existem pessoas que, durante alguns anos, venderam a imagem de serenidade e sensatez e, num momento adverso, começam a ficar insensatas e nervosas, a falar coisas que não deveriam". Segundo o presidente, Tasso já participou de muitas eleições, assim como seu partido (PSDB). "Eu penso que, à medida que a gente vai subindo de estatura na importância política, a gente vai tendo um aumento na nossa responsabilidade pelo que se fala. Se ele fala isso, em algum momento, tem que provar", acrescentou o presidente.

Lula também cobrou responsabilidade do Congresso Nacional na votação da medida provisória que concede reajuste de 5% dos benefícios para os aposentados. A oposição apresentou um destaque aumentando esse reajuste para 16,6%. "O Congresso não pode aprovar porque votou o Orçamento e não colocou o dinheiro para ser gasto. Se não colocou o dinheiro, como é que pode agora o Congresso querer aumentar a despesa da Previdência Social ?"

De acordo com Lula, se o Congresso quiser conceder o aumento para os aposentados, basta dizer, no orçamento do próximo ano, de onde vai tirar os recursos. "O que não podemos é, por conta de uma eleição, fazer banalidades com a economia brasileira".

Lula comentou também o afastamento do presidente de Cuba, Fidel Castro, para fazer uma cirurgia intestinal. Disse que mandou um telegrama desejando melhoras para o comandante cubano. "Eu até fiquei surpreso, porque em Córdoba (encontro do Mercosul, na semana passada) ele estava tão alegre. Agora, basta a gente estar bom, para ficar doente", resumiu o presidente.

Lula não quis comentar um possível processo sucessório cubano. "Isso é uma decisão do povo cubano, da mesma forma que não quero que ninguém interfira no nosso processo sucessório. Mas acho que, quem sabe, ele pode deixar o hospital amanhã e mostrar que a situação não é tão grave", disse Lula.