Título: Vale expor as ideias
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 05/09/2010, Política, p. 8/9

Os seis candidatos nanicos que se candidataram ao Palácio do Planalto são unânimes ao dizer que estão na disputa para expor ideias.Mas, na hora de mostrar a cara na tevê, poucos deles se expressam de maneira clara e atraente. Rui Pimenta (PCO), por exemplo, usa uma linguagem inacessível e rebuscada até para o eleitor que tem um pouco de instrução. O programa abre com uma trilha sonora de filme de terror. O petróleo serve apenas para enriquecer especuladores da Bolsa deValores de NovaYork.

Fora os especuladores, emenda o candidato.

Já Ivan Pinheiro (PCB) usa o programa para falar quase sempre de política internacional.

No apresentado na última sextafeira, ele resolveu comentar sobre a soberania da nação mais rica domundo. Os EstadosUnidos instalaram bases militares na Colômbia. Deram golpes em Honduras e botaram tropas no Haiti e na Costa Rica, disse. Depois, ele sugere que o Brasil lidere um movimento para expulsar os norte-americanos da América do Sul.

Para o especialista em marketing político Cláudio Rodrigues Júnior, da Universidade de Campinas, a falta de recursos é o principal entrave dos candidatos que não ganham expressão na corrida eleitoral, mas a falta de clareza na hora de se expressar também afugenta os eleitores.

O Enéas conseguia passar a sua mensagem em segundos porque era claro e caricato, exemplifica Rodrigues Júnior.

Ele lembra ainda que os especialistas que ensinam políticos a falar em público cobram uma fortuna pelo treinamento.

Renegados O empresário JoséMaria Eymael (PSDC), 70 anos, e o intelectual Plínio Sampaio (PSol), 80 anos, são os únicos nanicos na corrida presidencial que conseguem se expressar bem quando aparecem na televisão.Mas, assim como os demais, são renegados em debates e sabatinas. Plínio conseguiu até descolar convites para programas de TV e rádio.

Ainda assim, sua exposição não foi suficiente para marcar pelo menos um ponto nas pesquisas de intenção de voto. Além da falta de dinheiro, os dois também reclamam de falta de recursos para fazer um programa de televisão mais bem produzido.

O metalúrgico Zé Maria, 52 anos, do PSTU, queixa-se também da falta de recursos e defende que a distribuição do tempo na televisão seja igualitária. Apesar disso, ele conseguiu a muito custo visitar 20 estados com apenas R$ 26,9 mil em caixa. No Tribunal Superior Eleitoral, ele disse que poderia gastar até R$ 300 mil. A minha campanha é modesta por falta de dinheiro.Mas a falta de recursos nemé o maior problema. A desigualdade está na distribuição do tempo na televisão e na falta de convites para debates. Nunca me chamaram para uma sabatina, reclama.

Semdinheiro, ZéMaria recorre ao corpo a corpo. Acorda cedo e vai para a porta de fábricas distribuir panfletos e conversar com metalúrgicos na tentativa de conseguir votos.(UC)