Título: Pequenos se preparam para iniciar extração em campos no Nordeste
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Empresas &, p. B1

Sem grande alarde, pequenos e médios empreendedores brasileiros atraídos para o mercado de petróleo e gás na região Nordeste já trabalham em campos que, somados, reservas de US$ 1,7 bilhão. Até o fim do ano, devem começar as extrações de alguns dos poços que esses empresários passaram a administrar ao saírem vencedores na sétima rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), em outubro de 2005.

Ainda que o valor de cada área dependa também de fatores como capacidade real de produção dos poços e infra-estrutura dos campos, o número dá uma idéia do potencial do mercado de pequenas produtoras de óleo e gás, que começa a nascer no Brasil. O cálculo foi feito a partir do volume das reservas de óleo e gás ainda no subsolo ("in place", no jargão técnico) estimados pela Petrobras, antiga concessionária dos campos. No mercado internacional, o preço médio do barril de óleo "in place" é de US$ 22,35.

A Egesa, empresa mineira ligada ao ramo da construção civil, é uma das pioneiras a apostar nesse novo filão. O grupo criou a subsidiária Egesa Petróleo e Energia e pretende, com ela, entrar em novos leilões de campos marginais da ANP. Até agora, a Egesa arrematou uma área, a de Araçás Leste, no Recôncavo Baiano, que fez parte do primeiro leilão de campos maduros, em outubro do ano passado.

Por enquanto, a estreante na indústria petrolífera tem lidado basicamente com os trâmites para a obtenção da licença ambiental, processo que já se estende por seis meses, segundo o assessor técnico da companhia, Márcio Maciel, que está trabalhando no projeto de Araçás Leste. Apenas com a licença em mãos, a companhia vai investir com mais vigor os R$ 2,5 milhões que planejou para a empreitada - em grande parte, os gastos até o momento têm sido direcionados aos trâmites burocráticos.

A área de Araçás Leste, distante 100 quilômetros de Salvador, foi descoberta em 1967 e tem reservas de petróleo estimadas em 29,4 milhões de barris. Entre 1980 e 1982, a Petrobras, então concessionária, chegou a produzir em dois de seus três poços, mas um volume irrisório - 7,26 mil barris - se comparado com o volume total de óleo que se acredita haver no local.

A Egesa só deve começar a extração no começo de 2007, estima Maciel, mas não pretende se limitar a essa única iniciativa. "Estamos entrando agora nesse mercado, é um aprendizado, mas só esses dois poços não darão um volume de produção interessante para os negócios", afirmou o empresário. A empresa chegou a entrar na disputa também pela área de Rio Ipiranga, na Bacia do Espírito Santo, leiloada em junho, na segunda rodada de licitações de campos marginais. A área acabou ficando com a Cheim Transportes.

A baiana Panergy também aguarda o trâmite da licença ambiental de sua área para, no fim de 2006, começar a extrair gás da área de Morro do Barro, na Ilha de Itaparica. A empresa investiu até agora 30% dos R$ 14,5 milhões que planeja para essa reserva. O montante inclui maquinário e o bônus de R$ 711 mil pago à ANP para participar da licitação.

"Até o fim do ano, o investimento deverá chegar a 70%", diz James Correia, um dos sócios da empresa. Correia, professor do mestrado em energia da Universidade de Salvador (Unifacs), uniu-se a Normando Paes, um ex-aluno, para disputar áreas leiloadas pela ANP. Quando estiver em plena atividade, o campo deverá empregar 40 pessoas, afirma.

A chegada de pequenos e médios empreendedores ao setor, mundialmente dominado por gigantes, também pode ajudar a mudar o mapa da extração de petróleo e gás no país.

No segundo leilão de campos maduros, realizado em junho, a Panergy arrematou a área de Espigão, no Maranhão, a 170 quilômetros de São Luís. A área, que tem reservas de gás natural estimadas em 283,3 milhões de metros cúbicos, foi descoberta pela Petrobras em 1969, mas nunca foi colocada em produção. Ela deverá ser a primeira a produzir gás natural no Estado em escala comercial.

Pelo campo de Espigão, a companhia baiana pagou bônus de R$ 1,115 milhão. Com 11 interessados, Espigão foi o mais disputado na segunda rodada de licitações de campos maduros. Passado pouco mais de um mês do leilão, o trabalho da empresa no local ainda é incipiente, mas a previsão da Panergy é de investir R$ 10 milhões para iniciar a extração de óleo do subsolo.

À exceção da Panergy, nenhuma outra empresa conseguiu arrematar áreas nos dois leilões de campos maduros realizados até agora. Isso dá uma medida do aumento da concorrência entre os recém-chegados a esse mercado. "A tendência é de a concorrência aumentar e de surgirem ainda mais empresas", comenta Correia.

A concorrência entre os novos empreendedores do setor pode aumentar, mas logo é deixada de lado. "O único momento em que somos concorrentes é no leilão. Depois, somos parceiros", afirma Márcio Maciel, da Egesa.

Em novembro do ano passado, os novos investidores criaram a Associação das Empresas Produtoras de Petróleo e Gás Natural Extraídos de Campos Maduros do Brasil (Appom). Por meio dela, pretendem negociar, juntos, preços com fornecedores e também com a Petrobras, virtual compradora de sua produção.

A Appom também está tentando articular a construção de sua própria estação de tratamento de óleo (etapa intermediária entre a extração e o refino, na qual são extraídas impurezas e a água em excesso do óleo). Como a maioria das áreas repassadas pela ANP está na Bahia e em Sergipe, esses Estados ficariam com os empreendimentos.

A estação possibilitaria vender o petróleo à Petrobras por um preço melhor - sem o tratamento, o preço fica abaixo de US$ 50 o barril, estima Normando Paes, que, além de sócio da Panergy, é vice-presidente da Appom.

Nos Estados Unidos, perto de 7% da produção de petróleo, ou 608 mil barris por dia, vêm de campos maduros hoje explorados por empresas independentes. No país, o mercado das pequenas e médias petrolíferas está consolidado. Ainda é cedo para prever se, no Brasil, os pequenos terão um nicho cativo como os americanos, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).

O especialista afirma, no entanto, que um passo grande para essa consolidação seria a oferta de campos maduros que ainda não foram devolvidos à ANP e permanecem em poder da Petrobras. "Os campos maduros que estão com a Petrobras são bem mais interessantes. A disputa por eles seria muito mais acirrada", disse. "Surgiriam outros interessados e (os pequenos) teriam participação ainda maior", acrescentou.