Título: Petrobras terá bases no Rio e Ceará para importar GNL
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2006, Empresas, p. B2

A Petrobras detalhou ontem o plano de investimentos onde serão aplicados US$ 22 bilhões para a cadeia de gás no período 2007-2011, dos quais US$ 4,5 bilhões virão de parceiros. Na fatia que caberá a estatal, os recursos englobam as áreas de exploração e produção, abastecimento e gás e energia, cujo orçamento total até 2011 é de US$ 7,5 bilhões.

O diretor de Gás e Energia, Ildo Sauer, explicou que a companhia decidiu construir instalações para receber Gás Natural Liqüefeito (GNL) importado no Rio de Janeiro e no Ceará, e afretar dois navios do tipo FSRU (Floating Storage and Regasification Unit), que serão entregues em 2009. O custo estimado dos navios não foi revelado.

Ele calcula que os investimentos somente em infra-estrutura para receber o gás serão de US$ 180 milhões nos dois terminais. Isso não inclui o aluguel dos navios e nem o preço do GNL importado. O objetivo, segundo Sauer, é dar mais flexibilidade e confiabilidade de suprimento para o mercado brasileiro de gás. Isso significa que as importações serão eventuais e preventivas, de modo a aumentar a oferta interna de gás e atender ao mercado termoelétrico "com folga e redundância", prevendo a possibilidade de todas as térmicas despacharem ao mesmo tempo.

"Ele também vai servir para otimizar o suprimento das necessidades da própria Petrobras, das refinarias e das distribuidoras", disse Sauer.

O GNL é resultado de um processo criogênico através do qual o gás natural tem sua temperatura reduzida para 162º Celsius (C) negativos, o que mantido em pressão atmosférica transforma o gás em líquido, tendo seu volume reduzido 600 vezes. Dessa forma, o gás pode ser transportado por navios em grandes quantidades. Quando o GNL chega ao ponto de consumo, precisa ser novamente transformado em gás natural.

No primeiro momento, o armazenamento e regaseificação do GNL no Brasil serão feitos pelos navios, mas Sauer não descartou a possibilidade de construir, mais adiante, terminais terrestres para armazenagem. A companhia também mantém estudos para construção de outro terminal no Rio Grande do Sul. Inicialmente, a maior instalação, com capacidade de receber 14 milhões de metros cúbicos de GNL que será regaseificado, ficará na Baía de Guanabara. A outra ficará no porto de Pecém, próximo a Fortaleza, com capacidade para 6 milhões de metros cúbicos.

A Petrobras estima que os investimentos em infra-estrutura no terminal da Baía de Guanabara serão de até US$ 140 milhões, o que inclui um sistema de ancoragem com bóias de dois navios (um que ficará ancorado permanentemente e de outro que trará o gás importado), e de um duto submarino interligando o terminal até a Refinaria Duque de Caxias (Reduc).

Em Pecém, onde será construído um píer específico para o GNL, estão programados investimentos de US$ 40 milhões. Sauer evitou dar detalhes sobre o andamento das negociações para suprimento do GNL. Segundo ele, a Petrobras está conversando com os maiores produtores do mundo, citando especificamente a Shell, BP, BG, Suez, Sonatrac (estatal da Argélia), e estatais da Rússia e do Quatar.

Sauer adiantou apenas a tarifa de regaseificação é estimada em US$ 0,80 por milhão de BTU (medida inglesa que mede o poder calorífero do gás). A esse valor deverá ser acrescido o preço do GNL. No mercado americano - maior consumidor de GNL do mundo - o gás liqüefeito está custando no mínimo US$ 7 mas o valor pode chegar a US$ 11 em situações de emergência como ocorreu depois da passagem do furacão Katrina. A estimativa de Sauer é de que o produto seja importado pela Petrobras por US$ 6,20 a US$ 7 por milhão de BTU, em média.

"Esse custo é menor do que a Petrobras pagaria se tivesse que fornecer diesel para termelétricas, com custo de US$ 13 a US$ 14", ponderou o diretor, explicando que a Petrobras vai evitar importar GNL no período de maior consumo nos Estados Unidos.

Outra decisão da Petrobras é ampliar o trecho sul do Gasoduto Bolívia Brasil, já que a estatal não espera mais o suprimento de gás da Argentina, que seria supridora natural daquele mercado através do gasoduto da Transportadora Sul Brasileira (TSB).