Título: Queda da Selic incentiva investimentos no exterior
Autor: Rosa,Silvia
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2011, Investimento, p. D2
Acostumados a altas taxas de retornos com os investimentos no mercado doméstico, tanto na renda fixa quanto na variável, os investidores institucionais devem começar a se preparar para um cenário de rentabilidade mais baixa nos próximos anos.
Com a perspectiva de queda da taxa básica de juros e da limitação de ativos disponíveis para aplicação no Brasil, os investidores devem começar a olhar mais para a alocação em ativos no exterior.
Além da diversificação do risco, as alocações no exterior trazem uma melhora da eficiência da carteira de investimentos, otimizando a relação de risco e retorno. É o que aponta o estudo da gestora BlackRock, liderado por Cindy Shimoide, responsável pela equipe Latin America and Iberia Solutions da BlackRock, grupo que desenvolve soluções de investimentos a portfólios globais sob a ótica do investidor da América Latina.
O mercado brasileiro ainda é pouco internacionalizado. Apesar de autorizados a investir no exterior desde 2007, com a publicação da Instrução 450 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), hoje os fundos de investimento têm apenas 2,8% do patrimônio, que estava em R$ 1,8 trilhão em setembro, aplicados em ativos fora do Brasil.
Os fundos multimercados podem aplicar até 20% em ativos no mercado externo, enquanto o limite para as demais categorias é de 10%. Esse percentual pode chegar a 100% para portfólios destinados a investidores qualificados, com mais de R$ 300 mil em aplicações financeiras, e que exigem aporte mínimo de R$ 1 milhão.
Já os fundos de pensão são autorizados desde 2009 a investir até 10% de seu patrimônio no exterior, por meio de fundos de investimento ou de recibos de ações de empresas estrangeiras listados no mercado doméstico (Brazilian Depositary Receipts - BDRs). No entanto, a alocação em ativos estrangeiros ainda está muito abaixo desse limite, representando apenas 0,1% do patrimônio das fundações. Essa parcela ainda é muito pequena comparada com outros países na América Latina, onde a exposição a ativos internacionais chega a 36,8% no Chile, 27,5% no Peru e 13,5% na Colômbia e no México, destaca o estudo.
Com a maior taxa de juros real do mundo, o Brasil é um dos mercados mais atrativos em termos de renda fixa, com a Selic a 11,50% ao ano, enquanto as taxas de juros reais nos mercados externos estão muito baixas e até negativas, no caso dos países desenvolvidos. "Os investidores só começarão a olhar para as aplicações no exterior à medida que a taxa de juros for caindo", diz Cindy.
Já na renda variável, o investidor brasileiro vem assistindo desde 2004 a um boom no mercado de capitais no Brasil, com a retomada das ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês). Considerando os retornos em moeda local no período de dezembro de 1994 a agosto de 2011, o Ibovespa apresentou a maior valorização, de 1.198%, acima do apresentado pelos mercados emergentes, medido pelo MSCI Emerging Markets, que foi de 251%, e pelos mercados desenvolvidos (excluindo os Estados Unidos), que foi de 84%. Parte dessa alta, segundo Cindy, foi impulsionada pela valorização do real.
O mercado de ações brasileiro, no entanto, representa apenas 2% da capitalização do mercado acionário mundial, comparado com participação de 12,5% dos emergentes. "Por isso, vale buscar oportunidades no mercado internacional que possam trazer a diversificação do risco e retornos diferenciados à carteira", diz Cindy, que esteve nesta semana visitando fundos de pensão, gestores e family offices com o objetivo de trazer informações aos investidores brasileiros.
Além disso, as aplicações no mercado externo permite o acesso a classes de ativos e economias menos correlacionadas com a realidade brasileira.
A bolsa brasileira é muito concentrada em commodities e energia, que representam quase 50% do Ibovespa, mas ainda tem baixa representação de alguns setores como saúde e tecnologia.
Essa alocação poderia ser combinada por posição passiva, por meio de fundos dedicados a determinados países ou regiões, como os fundos de índices, os Exchange-Trade Funds (ETFs), ou estratégica, por meio da escolha de casas com gestão ativa.