Título: Aumento de preços e petróleo elevam previsão de superávit
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 08/05/2006, Brasil, p. A3

Apesar do vigor das importações, as consultorias econômicas começaram a elevar suas projeções de superávit para a balança comercial brasileira neste ano. As exportações estão crescendo em um ritmo mais forte que o esperado, devido ao aumento das exportações de petróleo e da alta dos preços dos produtos exportados pelo país, principalmente as commodities. Só que mesmo após as recentes revisões, as estimativas apontam para um superávit da balança em 2006 um pouco abaixo dos US$ 44,7 bilhões registrados em 2005.

A Tendências Consultoria elevou de US$ 41,1 bilhões para US$ 43,1 bilhões sua estimativa para o saldo da balança comercial deste ano. Se essa projeção se concretizar, significará queda de 3,6% do superávit em relação a 2005. A consultoria projeta exportações de US$ 129,8 bilhões, alta 9,7% comparado a 2005. Já as importações podem crescer 18%, para US$ 86,7 bilhões.

O petróleo é o principal responsável pelo impulso do saldo previsto. "As previsões de exportações de petróleo foram revistas por conta do impacto do início da produção da plataforma P-50 da Petrobras", explica Sérgio Conti, economista da Tendências. O governo apelidou a P-50 de plataforma da auto-suficiência.

Para a consultoria, as exportações de petróleo bruto devem atingir US$ 6,14 bilhões, acima dos US$ 5,5 bilhões estimados anteriormente. Já as projeções para exportações de derivados subiram de US$ 5,6 bilhões para US$ 6,47 bilhões. As estimativas ainda não levam em conta a recente medida de nacionalização e aumento do preço do gás do governo de Evo Morales, da Bolívia, que pode representar uma alta de US$ 450 milhões nas importações de gás.

Para Guilherme Loureiro, economista da Tendências, as exportações estão obtendo um bom desempenho devido à expansão da economia global. "O principal erro das projeções foi esperar um acomodação no ritmo de crescimento do mundo." Ele explica que as importações também crescem bastante por conta da apreciação do real e do aquecimento da indústria. A Tendência estima o dólar a R$ 2,30 no fim do ano.

A LCA Consultores também elevou suas projeções para o saldo da balança comercial de US$ 40,5 bilhões para US$ 44 bilhões. Mesmo nesse nível, ainda representará leve queda de 1,7% em relação ao superávit de 2005. Para a consultoria, as exportações devem aumentar 15% em relação a 2005, para US$ 136,2 bilhões, enquanto as importações podem crescer 25%, para US$ 92 bilhões.

Cristiana Santana, economista da LCA, diz que as previsões foram revistas por conta da alta surpreendente dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. O petróleo está gerando um ganho para as exportações e há sinalizações de que o aumento dos preços do minério de ferro pode chegar a 20%. "A demanda externa continua mantendo os preços fortes", avalia.

Mais cautelosa, a MB Associados prefere manter o saldo da balança comercial estimado em US$ 40 bilhões. A consultoria prevê alta de 11,5% das exportações em 2006 em comparação com 2005, para US$ 132 bilhões. As importações podem aumentar 25% este ano, atingindo o valor de US$ 92 bilhões.

"O mercado está olhando para as exportações, mas esquece de observar melhor as importações", avalia Sérgio Vale, economista da MB. Ele acredita que, mesmo que as exportações obtenham um desempenho melhor que o esperado, as importações também vão surpreender. A consultoria acredita que o câmbio deve continuar estimulando as compras externas, que cresceram 24,6% no quadrimestre e 39,8% no mês de abril. A MB estima que o dólar fecha o ano cotado a R$ 2,20.