Título: Copa do Mundo e Olimpíada são missão de Vieira
Autor: Exman,Fernando
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2011, Política, p. A5

O deputado Gastão Vieira (PMDB-MA) tomará posse no Ministério do Turismo com a missão de melhorar a gestão e recolocar a Pasta no centro dos preparativos da Copa do Mundo de 2014. Esse foi o recado que o parlamentar recebeu da presidente Dilma Rousseff na noite de quarta-feira, quando foi convidado a substituir Pedro Novais.

O desafio não é pequeno. Gastão Vieira terá de esforçar-se para recuperar o prestígio do Ministério do Turismo, que em agosto foi alvo da Operação Voucher, da Polícia Federal. A PF prendeu 33 pessoas ligadas ao ministério, os quais foram acusados de desviar recursos públicos que deveriam ser destinados a programas de qualificação de mão de obra no Amapá. Não à toa, Vieira sugeriu a Dilma justamente que os programas de capacitação de pessoal executados pela Pasta fossem reforçados.

Vieira também terá de recuperar a força política do ministério. Apesar de ser um dos destinos favoritos das emendas parlamentares ao Orçamento, o Ministério do Turismo não vinha gozando de grande apreço junto ao Palácio do Planalto. Pedro Novais, por exemplo, só teve uma audiência particular com Dilma Rousseff durante sua passagem pelo governo, a qual teve fim após denúncias de uso de recursos da Câmara para pagamento de empregados particulares.

Outro obstáculo a ser enfrentado por Gastão Vieira é o orçamento do ministério, que sofreu grandes cortes devido ao esforço do governo de reduzir suas despesas. Perguntado sobre as prioridades de sua gestão, o novo ministro afirmou ontem, antes de entrar no Fórum Nacional do PMDB, que montará um programa para a formação de mão de obra bilíngue e elaborará um projeto em conjunto com o Ministério da Agricultura e a Secretaria de Assuntos Estratégicos - ambos também comandados pelo PMDB - para capacitar os beneficiados pelo programa de combate à pobreza Brasil Sem Miséria. "Ela [Dilma] me propôs uma prioridade e eu apresentei duas sugestões", comentou Vieira, referindo-se à ordem da presidente para que a Copa fosse sua maior preocupação.

Considerado discreto e com bom trânsito entre os colegas da Câmara, Gastão Vieira tem pelo menos uma característica comum com seu antecessor: o vínculo com o presidente do Senado, José Sarney (AP). O novo ministro negou, no entanto, que tal predicado possa lhe prejudicar. "Eu sou ligado à família Sarney há muito tempo e ao presidente José Sarney, que sempre me respeitou como parlamentar. Nunca me impôs que eu fizesse nada ou deixasse de fazer, e eu sempre exerci meus cinco mandatos com a independência necessária."

Gastão Vieira é deputado federal desde 1995. Licenciou-se entre março de 1995 a abril de 1998 para assumir a Secretaria de Educação do Estado do Maranhão. De maio de 2009 a março de 2010, deixou temporariamente a Câmara outra vez para chefiar a Secretaria de Planejamento do governo maranhense. Nos dois casos, integrou o primeiro escalão da administração de Roseana Sarney, que o considera "muito competente".

Entre 1991 e 1994, foi secretário de Planejamento do governo de Edison Lobão, atual ministro de Minas e Energia e outro aliado de José Sarney. Na Câmara, focou sua atuação na área de educação. É o atual presidente da comissão especial que analisa o projeto do Plano Nacional de Educação. Destacou-se também nos debates sobre a proibição do uso de castigos corporais como método educativo.

O grande derrotado das negociações que levaram o deputado à Esplanada dos Ministérios foi o líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Os maiores vencedores foram José Sarney e Roseana Sarney, padrinhos políticos do novo ministro.

Alves, em parceria com o deputado Eduardo Cunha (RJ) e com o apoio do baixo clero da Câmara, indicara Pedro Novais para o Turismo. Na quarta-feira, o líder tentou emplacar dois nomes, mas não conseguiu a concordância da presidente Dilma Rousseff. A determinada hora, chegou-se a dar como certa a nomeação do deputado paraibano Manuel Junior. A Polícia Federal chegou a ser acionada para informar sobre um crime na Paraíba de que o deputado seria o suposto mandante, e a assessoria de Dilma advertiu a presidente para o risco de ela ter de responder a perguntas sobre o possível envolvimento do "ministro" num crime de morte durante a Assembleia Geral das Nações Unidas.

Como o PMDB não chegou a um consenso e sob o risco de Dilma escolher um senador do partido para a vaga, Alves levou ao Planalto uma lista com o nome de todos os 80 integrantes da bancada da Câmara. Num outro movimento, a presidente virou-se para o vice-presidente Michel Temer e disparou, sorrindo: "Neste caso, por que não nomeamos o Gabriel Chalita?" Chalita é o candidato inventado por Temer para disputar a Prefeitura de São Paulo nas próximas eleições de 2012, e deve rivalizar com o candidato petista que o ex-presidente Lula quer na disputa, Fernando Haddad.

O desfecho não deixou de ser um constrangimento para Temer. Afinal, Gastão Vieira foi escolhido menos pela qualidade e mais pela falta de defeitos do deputado. Por outro lado, Sarney, que andava meio em baixa com a presidente, recupera algum prestígio. Mas nada parecido com o que tinha quando o presidente era Luiz Inácio Lula da Silva.

Assim, o resultado pior foi para Alves. Ele quer ser presidente da Câmara no lugar de Marco Maia (PT-RS), nos termos do acordo de rodízio acertado entre os dois partidos. Não tem a simpatia da Presidência, é criticado pelo alto clero pemedebista de fazer todo tipo de concessão para se eleger e, agora, não conseguiu nem mesmo se acertar com seu eleitorado do baixo clero, que também reagiu às suas indicações.