Título: Europa mira negócios de US$ 200 bilhões na Líbia
Autor: Saigol,Lina
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2011, Internacional, p. A13

Grandes empresas europeias estão disputando posições para abocanhar bilhões de dólares em contratos na Líbia, usufruindo da boa vontade do Conselho Nacional de Transição (CTN), após a derrubada do regime de Muamar Gadafi.

As estimativas do CTN apontam para um gasto de aproximadamente US$ 200 bilhões na próxima década para reconstruir a infraestrutura do país, danificada por anos de baixos investimentos, por sanções e pela guerra. Na quinta-feira, o CTN disse que seus aliados estrangeiros na guerra terão prioridade na concessão de contratos.

Empresas não petrolíferas europeias estão em busca de oportunidades em todos os setores - de equipamentos médicos e suprimentos hospitalares a telecomunicações, água, maquinário agrícola e serviços de software.

O Reino Unido enviou seu primeiro representante da governamental UK Trade & Investment a Trípoli na terça-feira. E planeja enviar uma delegação do Conselho de Negócios Líbio-Britânico à capital e a Bengasi em outubro.

Empresas francesas, como a construtora Vinci, a farmacêutica Sanofi e a France Telecom, estão organizando uma missão comercial oficial que irá à Líbia no fim de setembro para conseguir uma vantagem sobre os concorrentes.

"O CNT tem demonstrado estar disposto a recompensar as empresas e os países que o ajudaram e por isso não é cedo demais para as empresas estabelecerem ou restabelecerem sua presença na Líbia", disse Emad Mostaque, diretor de estratégia da Religare Capital Markets para o Oriente Médio e o norte da África.

Empresas italianas, que têm vínculos que remontam à colonização da Líbia, agiram rapidamente no sentido de retomar relações em base individual ou provincial, sem esperar que uma delegação oficial preparasse o caminho.

A Finmeccanica, grupo de defesa semiestatal italiano, tem como objetivo retomar contratos nos setores de infraestrutura e segurança que firmara com o antigo regime, ao passo que o UniCredit, banco italiano que conta com o Banco Central da Líbia e a Autoridade de Investimentos Líbia entre seus maiores acionistas, está na vanguarda das negociações para descongelamento dos ativos líbios.

No entanto, Oliver Miles, antigo embaixador britânico na Líbia, disse estar aconselhando as empresas no sentido de que ainda é muito cedo para entrar no país, a menos que estejam ajudando a superar problemas imediatos, como a escassez de suprimentos médicos.

"Este é o momento errado para a maioria das empresas voltarem à Líbia. Como os combates ainda não terminaram, o país tem outras prioridades no momento, e a autoridade de transição não está tomando decisões sobre a reconstrução", disse Miles.

Robert Tashima, da consultora Oxford Business Group, disse que os investidores querem saber quem está no comando, como serão tratados os contratos pré-existentes e que modelo assumirá a política econômica. "Em termos de preocupações com contratos pré-existentes, uma série de grandes empresas europeias já buscou obter garantias [de continuidade] e algumas, como a italiana Eni, uma das maiores investidoras no setor de hidrocarbonetos, enviou equipes para avaliar danos à sua infraestrutura", afirmou Tashima, editor regional da publicação "Africa and the Levant".

Porém, mais que capital estrangeiro, a Líbia necessita de competência e know-how técnico. Nesse sentido, os especialistas acreditam que serão mantidas as exigências de formação de joint ventures com empresas líbias e de uma quota de 75% dos empregos reservados para pessoal local.